Helena Martins – Repórter da Agência Brasil
Nesta sexta-feira (22), negros e negras vão às ruas, em protesto para denunciar a existência de um processo de extermínio contra essa população. A 2ª Marcha Internacional contra o Genocídio do Povo Negro está programada para ocorrer em 18 estados brasileiros e em 15 países, segundo a campanha “Reaja ou será morto (a)”, que convocou o ato.
“O que a gente está querendo, por meio dessa retomada das vozes do povo negro e da luta pela garantia da vida, é fortalecer vozes que têm sido brutalmente silenciadas por meio da violência”, diz Andreia Beatriz Santos, integrante da organização Quilombo Xis e da coordenação da campanha “Reaja”, que desde 2005 articula negros na luta contra o racismo.
No Brasil, casos como o de Amarildo, Cláudia e DG, todos negros e assassinados no ano passado em situações que envolveram policiais, se multiplicam. Segundo o Mapa da Violência 2014, a vitimização de negros é bem maior que a de brancos. Morreram proporcionalmente 146,5% mais negros do que brancos no Brasil em 2012, em situações como homicídios, acidentes de trânsito ou suicídio. Entre 2002 e 2012, essa vitimização mais que duplicou, segundo o estudo.
Além de denunciar o genocídio, a marcha pretende pautar o que as organizações apontam como seletividade do sistema prisional. No Brasil, “as pessoas criminalizadas ou privadas de liberdade são, sobretudo, pessoas negras”, lembra Andreia. De acordo com dados de 2013 do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça, das 537.790 pessoas que estão no sistema penitenciário, 93,92% são homem, 50,88% têm entre 18 e 29 anos e 57,21% têm pele de cor negra ou parda. Cruzando os dados, os números apontam que a maior parte dos presos no Brasil é formada por homens e pretos.
Neste ano, o tema da marcha – A Luta Transnacional contra o Racismo, a Diáspora Negra contra o Genocídio – destaca o caráter internacional dos problemas e reivindicações. “Não é uma situação só nossa”, já que o racismo decorre da escravidão negra, que foi usada em vários países, explica a coordenadora da campanha. Exemplo disso, aponta, é a atual situação dos Estados Unidos. Lá, o assassinato de um jovem negro por um policial, no último dia 9, em Ferguson, no estado de Missouri, tem gerado indignação e protestos.
Surgida na Bahia, a campanha “Reaja ou será morto (a)” promove atos anuais desde 2006, quando um rapper e integrante da articulação, Negro Blul, foi executado por grupos de extermínio. A partir de então, a mobilização ganhou outros estados, onde grupos desenvolvem trabalhos visando a ampliar a conscientização e a mobilização dessa população.
Em 2013, foi realizada a primeira marcha nacional. Apenas em Salvador, mais de 5 mil pessoas compareceram ao ato, conforme a organização. São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre também participaram da mobilização, que agora conta com o apoio de movimentos de outros países. Hoje, a solidariedade será demonstrada por meio de atos em frente a consulados ou embaixadas brasileiras.
Juntos, os movimentos querem dar visibilidade às situações de violência e fortalecer a luta por políticas públicas que garantam direitos, como acesso à educação e à saúde. Brasília, São Paulo,Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Manaus e Vitória são algumas das capitais que devem receber a marcha ao longo do dia.