Marcela Belchior – Adital
As eleições para a escolha dos novos governadores nos Estados do Brasil se aproximam e as expectativas para a renovação de políticas públicas que preservem o ecossistema amazônico parecem contar com candidatos cada vez menos comprometidos com as causas ambientais. Todos os postulantes aos governos dos Estados do Pará e do Mato Grosso, duas das unidades federativas mais importantes da Amazônia brasileira, possuem vínculos ou são representantes do agronegócio que, por décadas, degradam a região.
Os dados estão apontados em um levantamento realizado pela organização não governamental ANDI – Comunicação e Direitos, com apoio da Aliança pelo Clima e Uso da Terra (CLUA), por meio do projeto “Mídia e Desmatamento na Amazônia”, que oferece aos veículos de comunicação de todo o Brasil ferramentas que facilitem a investigação de questões prioritárias para a preservação dos recursos naturais nessa região. A pesquisa pode representar um alerta para os destinos do país e do mundo no que diz respeito à histórica destruição dos recursos naturais do planeta.
Segundo as organizações, o Estado do Mato Grosso possui a maior taxa de desmatamento acumulado na região, devastando uma área total de 137.251 km2, sendo o maior produtor de carne e o maior produtor de grãos do país. Os dados indicam que, ao mesmo tempo em que o agronegócio se expandia, o Estado liderava o corte anual de florestas na região, entre 1992 e 1999, e entre 2001 e 2005, quando foi ultrapassado pelo Estado do Pará. Em 2013, a taxa de desmatamento em território matogrossense aumentou 53% em relação ao ano anterior.
O levantamento aponta que a classe política desse Estado, financiada especialmente pelo agronegócio, tem investido tanto no Congresso Nacional quanto na Assembleia Legislativa contra as áreas protegidas, que consideram um entrave à expansão de seus negócios. Entre 2003 e 2006, três unidades de conservação estaduais foram reduzidas pelo Legislativo do Estado, subtraindo 76 mil hectares de seu território destinados à proteção ambiental. Um dos principais parques estaduais, o Cristalino, também corre o risco de ser reduzido nos próximos meses.
Questões que envolvem candidatos
Em um estado em que a agricultura e a pecuária são responsáveis por entre 25% e 30% do Produto Interno Bruto (PIB), os três principais candidatos ao governo do Mato Grosso possuem vínculos com políticos ou entidades ligadas às cadeias produtivas desses setores. José Geraldo Riva (Partido Social Democrata – PSD) vem de uma família de agropecuaristas e é alvo de centenas de processos na Justiça, dentre eles, improbidade administrativa e enriquecimento ilícito. Sua esposa, Janete Riva, é ré em ação penal movida pelo Ministério Público Federal por crimes contra o meio ambiente e o patrimônio público.
Já Lúdio Cabral, candidato pelo Partido dos Trabalhadores (PT), buscou para vice um nome que lhe possibilitasse obter apoios junto ao influente agronegócio do Estado, o pecuarista Teté Bezerra (Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB). A terceira chapa da disputa é encabeçada por Pedro Taques (Partido Democrático Trabalhista – PDT). Seu vice é o produtor rural Carlos Fávaro, que foi por duas vezes presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja-MT), da qual se desligou em junho passado.
No caso do Estado do Pará, os dados dão conta de que, desde 2006, a unidade federativa apresenta as maiores taxa anuais de desmatamento, totalizando 136.127 km2 de áreas abertas. Em 2010, foi também o estado que apresentou maior extensão de áreas degradadas pela exploração seletiva de sua cobertura florestal.
O levantamento indica que, diferentemente do Mato Grosso, onde o desmatamento deriva, principalmente, da abertura de áreas agrícolas, no Pará, o desmatamento está majoritariamente associado à grilagem e à especulação com terras públicas, quase sempre associadas à pecuária. De 1996 a 2006, a superfície do Estado ocupada por pastagens subiu de 7.455.730 para 13.167.860 hectares. Entre 2008 e 2012, o rebanho bovino nacional cresceu apenas na região Norte, alavancado, sobretudo, pelo Pará.
Postulante ao Governo do Pará, Helder Barbalho (PMDB), durante audiência pública realizada em maio de 2012, no município de Monte Alegre, prometeu reduzir unidades de conservação criadas em 2006 para conter a grilagem de terras na calha norte do Amazonas. Seu vice é o deputado federal Joaquim de Lira Maia (DEM), engenheiro agrônomo e proprietário rural.
O segundo candidato ao Executivo paraense, Simão Jatene (Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB), é o atual governador do Estado. Ele responde por uma série de denúncias, sendo a principal delas o favorecimento a uma grande indústria de bebidas do Estado em troca de financiamento para campanhas eleitorais, cujo processo tramita há 10 anos na Justiça.