MPF instaura inquéritos para acompanhar o pleito dos indígenas para a demarcação do território e as ameaças feitas às lideranças da etnia Kanela, em Mato Grosso
Ministério Público Federal no Mato Grosso
O Ministério Público Federal está investigando as ameaças sofridas pelos índios da etnia Kanela do Araguaia, bem como os bloqueios que impedem o acesso à Aldeia Porto Velho, situada nas margens do rio Tapirapé, entre os municípios de Santa Terezinha e Luciana, na região nordeste de Mato Grosso. Ainda sem um território demarcado, a história dos índios Kanela do Araguaia registra constantes deslocamentos por conta das ameaças sofridas pela etnia, cujas origens estão no Maranhão.
Um dos inquéritos instaurados pelo Ministério Público Federal investiga as dificuldades de acesso aos territórios tradicionalmente ocupados por membros da etnia indígena Kanela, na região da Aldeia Porto Velho, em razão de obras na rodovia MT-100 e bloqueios de estradas por fazendeiros. A obra da rodovia MT-10 encontra-se embargada em razão da ausência de licença ambiental.
O outro inquérito civil vai acompanhar a demanda da etnia Kanela pela identificação, delimitação, demarcação e regularização das terras ocupadas por eles nas margens do rio Tapirapé. O Ministério Público Federal já solicitou informações para a Funai sobre o tramite dos estudos relativos ao pleito dos indígenas.
Os índios Kanela saíram do Maranhão nos anos 40 em decorrências das ameaças sofridas por eles e passaram a viver em Mato Grosso, na região dos rios Araguaia e Tapirapé.
Os primeiros registros da presença dos Kanela no noroeste de Mato Grosso, são da década de 1950. Apesar das constantes violências e perseguições, algumas famílias permanecem na aldeia Porto Velho, às margens do rio Tapirapé, localidade em que reivindicam o reconhecimento de seu território. A maioria dos indígenas mora nas cidades vizinhas da região em condições precárias e com o desejo de ver o povo Kanela novamente reunido. Atualmente os índios Kanela são uma população de aproximadamente 800 pessoas.
“Quando chegamos em Mato Grosso, lembro como hoje, foi em 55, em 58 os agrimensores desceram medindo essas terras todas de Mato Grosso. Chegamos em Luciara e foi acabando a possibilidade de nós morar juntos, os fazendeiros foram empinhando e aí ficamos. Aí voltou um bocado para Santa Terezinha e outros ficaram em Luciara… Então, o meu desejo que eu tenho dentro de mim é de ainda, velha como estou, aos 64 anos, mas eu ainda tenho o desejo de morar junto com toda essa família”, diz trecho da declaração da indígena Joana registrada na Nova Cartografia Social da Amazônia, no fascículo que trata do povo indígena Kanela do Araguaia.
“O prazer e o sonho de todos os Kanela é ter o seu território. A partir do momento que nós conseguir o nosso território, que nós aldear dentro dele, aí nós vamos começar a ter a nossa identidade original, entendeu? Porque a primeira identidade, que é a principal do índio, é a sua cultura, o idioma, o índio sem a sua cultura não é índio. Então, quando nós aldear, o meu sonho e o meu prazer é buscar a nossa cultura”, registra Pedro, índio Kanela, também na Nova Cartografia Social da Amazônia.
Na mesma publicação, Pedro reafirma: “a gente como Kanela o que mais a gente quer é sobreviver da terra… A cultura branca nos oprimiu de forma que nos tirou a nossa identidade, o que a gente mais luta é o resgate dessa identidade e essa identidade não representa somente a nossa cultura, mas o nosso espaço onde nós possamos habitar, criando nossos filhos, vivendo em comunidade”.
Portaria de instauração do inquérito para investigar as dificuldades de acesso aos territórios.
Portaria de instauração do inquérito para acompanhar a regularização do território Kanela.