Manaus, 12 ago (EFE/Amazônia Real).- Um dos principais sertanistas brasileiros, Sydney Ferreira Possuelo projetou um cenário sombrio e fez críticas sobre o recente contato de índios ashaninka e servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) com uma tribo desconhecida em junho, na fronteira do Acre com o Peru.
Em entrevista à agência “Amazônia Real”, Possuelo disse temer pela sobrevivência dos índios que vivem isolados na região devido ao contágio por doenças para as quais eles não têm defesa.
“O que vão fazer agora? Vai vir a doença, eles vão morrer e vão desaparecer. É isso que vai acontecer. Quando criei o sistema de proteção aos povos indígenas, foi exatamente para evitar o contato, demarcar o território e deixar eles lá, quietos”, afirmou.
O sertanista assistiu a dois vídeos divulgados nas redes sociais, um pela Funai e o outro pelo blog do jornalista Altino Machado. As imagens do primeiro geraram grande curiosidade em vários países, sendo acessadas por mais de 4 milhões de pessoas. Ele destacou que não foram seguidas as regras sobre contato com índios isolados.
“Não é uma questão de opinião. É por isso que esse país é esculhambado desse jeito. O Departamento de Índios Isolados tem normas publicadas no Diário Oficial da União. Está lá o que se deve fazer. Ver se eles foram consultar as normas, nada mais”, frisou.
Após o contato, alguns índios da tribo desconhecida contraíram gripe, e o sertanista vê com pessimismo o que poderá acontecer com a tribo.
“Mesmo estando de fora, sem ter visto a situação, sem saber as pessoas que estão lá, a coisa é clássica. Os contatos vão se estreitar mais, aí um vai dar uma bolacha, outro vai levar um pacote de açúcar, um vem atrás de uma camiseta. A tendência é isso. Por causa dessas porcarias, que para eles é uma coisa interessantíssima, uma novidade, eles acabam perdendo a língua, perdendo a saúde, desgraçadamente é isso que acontece”, disse.
Possuelo, de 74 anos, começou a trabalhar com as etnias indígenas brasileiras aos 17 nas expedições dos irmãos Orlando e Claudio Villas-Bôas no Parque Nacional do Xingu. Nos 43 anos em que trabalhou na Funai, fez contatos com nove povos indígenas isolados, foi presidente do órgão de 1991 a 1993 e responsável pela demarcação da Terra Indígena Yanomami, que enfrenta a pior crise com a invasão de garimpeiros.
Na Amazônia, Possuelo fez contatos com os povos arara, no Pará, e korubo, no Amazonas. Ele viu muitos índios morrerem depois de contraírem doenças como gripe e tuberculose transmitidas por não-índios. À frente do Departamento de Índios Isolados e Recém Contatados da Funai, criou e implantou a política de proteção das etnias com o objetivo de não fazer a aproximação, mas sim demarcar suas terras e estabelecer um sistema de vigilância territorial.
Em 2006, o sertanista foi demitido do Departamento de Índios Isolados depois de criticar o então presidente Mércio Pereira Gomes, que disse em entrevista que “os índios brasileiros têm terras demais”. Possuelo se indignou e comparou o presidente aos madeireiros e garimpeiros da Amazônia.
Me admira muito o Sr. Possuelo simplesmente criticar os atuais servidores da Funai. Ele trabalhou no órgão e conhece muito bem a dedicação daqueles que lá estão tentando proteger os indígenas. A política de proteção aos indígernas não mudou, mas esse contato tem apresentado características de pedido de socorro, aqueles jovens parecem assustados e recorrendo a quem parecia estar lá para defesa e não para ataque. Muitos que trabalharam na Funai hoje ficam do lado de fora criticando, como se os que hoje trabalham fizessem tudo errado, mas se esquecem que muita coisa errada acontecia na época em que recurso público era usado sem controle, sem um mínimo de exigências legais. Se hoje o atendimento aos isolados carece de material, pode ser um reflexo do excesso de burocracia sim, mas esse excesso de burocracia existe exatamente pra evitar coisas que aconteciam no passado dentro do serviço público, como compras fraudulentas, desvio de materiais, desvio de recursos, utilização de patrimônio público para fins particulares…. enfim, os defeitos de hoje são diferentes dos defeitos de ontem, mas que atire a primeira pedra aquele que nunca errou… uma certeza eu tenho, os que lá estão estão muito comprometidos em tentar proteger os isolados e não destruir.