Por Débora Barcellos Teodoro
Dona Regina tem orgulho de morar na Ocupação Esperança (Isidoro/Belo Horizonte). Dona Regina possui conhecimento de seus direitos de cidadã e suas obrigações de mãe. Mãe de 9 filhos… Ela vive com a esperança de conquistar sua terra, para continuar a criar prosperamente sua família. A grande humilhação sofrida por Dona Regina foi ouvir da diretora de uma escola pública: “criança de ocupação não pode ser matriculada na escola.”. Que maravilha seria uma sociedade solidária, que não se ofendesse com a conquista de direitos da Dona Regina e sua família! Uma sociedade em que se fizesse cumprir o direito que toda criança tem à escola. Uma sociedade na qual criança alguma precisasse dormir com medo da polícia colocá-la para fora do lugar ao qual passou a pertencer.
Da tranquilidade de nossos lares, de nossa zona de conforto, é realmente difícil, quiçá impossível, imaginar o que acontece em uma ocupação. Conhecer de perto um pouco do dia a dia, conversar com moradores, se identificar com aquelas mães, pais, crianças, jovens, idosos, gente trabalhadora… É um convite instigante à reflexão. Famílias socialmente invisíveis, politicamente sem voz, legalmente sem vez. Famílias incrivelmente solidárias entre si, vivendo entre a esperança da realização de sonhos e o medo de serem acordados de madrugada e brutalmente arrancados de seus lares, por quem deveria protegê-los, a polícia. Gente que já criou identidade com seu pedacinho de terra, sua horta, sua rua, seus vizinhos, em uma propriedade que estava ociosa há anos e sem cumprir sua função social, uma verdadeira “terra de ninguém”.
O que eu senti, ao conhecer as ocupações do Isidoro: Vitória, Rosa Leão e Esperança? Vontade de ser uma pessoa melhor e vergonha de todas as vezes que já reclamei de minha vida. Os moradores das ocupações do Isidoro estão em meu coração e, agora, fazem parte de minha vida! “Enquanto morar for um privilégio, ocupar será um direito!”.