Davi Kopenawa havia dito antes que recebeu intimidações de garimpeiros. Festa literária de Paraty acabou neste domingo (3).
A tradicional roda de leitura que encerra a Flip foi sucedida por um discurso do líder ianomâmi Davi Kopenawa neste domingo (3), a respeito das ameaças de morte que vem recebendo em Roraima e no Amazonas. “Estou muito preocupado com o meu povo ianomâmi. Os fazendeiros e garimpeiros têm muito dinheiro para matar o índio”, disse o presidente da Hutukara Associação Yanomami.
Em seu discurso neste domingo na Flip, Kopenawa afirmou que “o que garimpo está fazendo é ilegal, não está certo”. “Não estão respeitando. Eu estou pedindo a vocês para proteger o meu povo ianomâmi junto comigo. Mas eu não sou bicho, não sou cachorro. Sou gente, sei falar, sei lutar, sei reclamar, sei defender o país. Sei proteger a nossa montanha, as nossas florestas, nossa saúde.”
Há poucos dias, Kopenawa havia dito ao G1 Roraima que está sendo intimidado por garimpeiros da cidade de São Gabriel da Cachoeira (AM). Na semana passada, a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) em Roraima chegaram a publicar uma nota conjunta sobre a ameaça de morte.
Kopenawa disse em um momento que o “governador de Roraima está deixando acontecer assim”. O secretário de Segurança de Roraima, Amadeu Soares, rebateu a afirmação, procurado pelo G1. “O inquérito das ameaças está sendo conduzido pela Polícia Federal. Eu não sei porque ele [Kopenawa] está dizendo isso, acredito que esteja querendo ‘jogar pra torcida’.
A Operação Xawara, deflagrada em julho de 2012 pela Polícia Federal, com o apoio do Ministério Público Federal em Roraima, teve o objetivo de reprimir o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami no estado. Durante as investigações, foram identificados cinco grupos criminosos que atuavam para manter o garimpo ilegal. Eram formados por aviadores e empresários ligados ao ramo de joalheria e proprietários de balsas e motores para a extração do ouro.
Segundo o MPF e a PF, a Terra Indígena Yanomami/Ye’kuana sofre com a pressão decorrente da expansão dos assentamentos, incluindo grilagem em área de fronteira, garimpo, desmatamento, pesca e caça ilegal, além de atividades madeireiras. Dentre os prejuízos causados às comunidades indígenas, são listadas doenças, contaminação dos rios e nascentes, alcoolismo, mão de obra análoga à escrava e conflitos internos.
Por fim, dizendo-se “muito emocionado”, Kopenawa concluiu falando que “a terra é fundamental para nossos filhos continuarem a viver em paz”. Na sexta-feira (1º), ele havia participado da programação da Flip em debate sobre a questão indígena com a fotógrafa Claudia Andujar.
Mesa final
Neste ano, a 12ª Flip teve 47 escritores convidados em sua programação principal e recebeu cerca de 25 mil pessoas neste ano, segundo estimativa da organização do evento. Antes de Antes de Davi Kopenawa subir no palco neste domingo, a mesa de encerramento reuniu sete autores para ler trechos de suas obras favoritas.
Andrew Solomon leu um poema de Elizabeth Bishop e citou os tempos dela no Brasil; o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro escolheu um trecho do “Sermão do Espírito Santo”, do padre Antonio Vieira; Etgar Keret citou Kurt Vonnegut; Fernanda Torres, crônica de Millôr Fernandes sobre Rubem Braga; a argentina Graciela Mochkofsky leu “A condição humana”, de André Malraux”; Joël Dicker, “Ratos e homens”, de John Steinbeck; e Marcelo Rubens Paiva citou “O grande Gatsby”, de F. Scott Fitzgerald.