Em duas semanas, CNV ouviu 21 agentes que atuaram na ditadura
Brasília. Um balanço da Comissão Nacional da Verdade (CNV) divulgado nesta sexta apontou que o colegiado ouviu 21 agentes que atuaram na ditadura militar em duas semanas de sessões no Rio e em Brasília. O advogado Pedro Dallari, coordenador da CNV, traçou um paralelo entre o Brasil atual e do período do regime militar, que durou 21 anos. “A tortura persiste como uma política sistemática na segurança do país. Ela ainda é vista como algo comum e corriqueiro”, disse Dallari.
Engenheiro civil e político brasileiro, Rubens Paiva nasceu em Santos em 1929. Ativista com atuação no Rio de Janeiro, teve sua morte confirmada mais de 40 anos depois, após depoimentos de ex-militares envolvidos no caso. Ele foi torturado e assassinado nas dependências de um quartel militar entre 20 e 22 de janeiro de 1971. “O caso Amarildo é o caso Rubens Paiva”, afirmou Dallari.
“No país ainda se usa mecanismos criados desde a época de Getúlio Vargas”, afirmou a advogada Rosa Cardoso, integrante da comissão. “Temos que desmontar esses aparelhos de terror”, disse, referindo-se à tortura e coerção de presos.
Outro integrante da CNV, o professor de ciência política Paulo Sérgio Pinheiro afirmou que o recente monitoramento de movimentos sociais por parte do Exército é um escândalo. Ele disse que a democracia brasileira ainda está se consolidando, mas descartou a possibilidade de um levante militarista aos moldes do regime.
Nesta sexta, a comissão ouviu mais três pessoas no Rio: Celso Lauria, que atuou no Doi-Codi; Zilson Luiz Pereira da Cunha, que supostamente participou de violações de direitos humanos ocorridos no Estádio Nacional do Chile; e o sargento da Aeronáutica Luciano José Marinho de Melo, que supostamente transportou presos políticos.
Conclusão
Prazo. A Comissão Nacional da Verdade está em fase de conclusão dos trabalhos e entregará seu relatório à presidência da República e demais órgãos de governo em 10 de dezembro.
Justiça altera causa mortis de guerrilheiro
A Justiça reconheceu que o guerrilheiro Ruy Carlos Berbert foi morto sob tortura, aos 24 anos, na cadeia pública de Natividade, hoje Tocantins, em 1972. Pela decisão, o documento de óbito deixará de apontar suicídio, versão oficial colocada em xeque pelo jornal “O Estado de S. Paulo” há dois anos, com a publicação de fotos do corpo e relatórios inéditos.
A mãe do guerrilheiro, Ottília Vieira Berbert, 95, agradeceu ao juiz do caso por apagar a imagem do filho dependurado na cela.
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.