“O caso Amarildo é o caso Rubens Paiva”, diz comissão

Sem novidade. Comissão ouviu ontem mais três pessoas, que não acrescentaram nada às apurações
Sem novidade. Comissão ouviu ontem mais três pessoas, que não acrescentaram nada às apurações

Em duas semanas, CNV ouviu 21 agentes que atuaram na ditadura

O Tempo

Brasília. Um balanço da Comissão Nacional da Verdade (CNV) divulgado nesta sexta apontou que o colegiado ouviu 21 agentes que atuaram na ditadura militar em duas semanas de sessões no Rio e em Brasília. O advogado Pedro Dallari, coordenador da CNV, traçou um paralelo entre o Brasil atual e do período do regime militar, que durou 21 anos. “A tortura persiste como uma política sistemática na segurança do país. Ela ainda é vista como algo comum e corriqueiro”, disse Dallari.

O coordenador também afirmou que o caso do pedreiro Amarildo de Souza – detido por policiais militares em 14 de julho de 2013, levado à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), torturado e morto, cujo corpo foi desaparecido – remete ao caso Rubens Paiva, dado como desaparecido durante o regime militar.

Engenheiro civil e político brasileiro, Rubens Paiva nasceu em Santos em 1929. Ativista com atuação no Rio de Janeiro, teve sua morte confirmada mais de 40 anos depois, após depoimentos de ex-militares envolvidos no caso. Ele foi torturado e assassinado nas dependências de um quartel militar entre 20 e 22 de janeiro de 1971. “O caso Amarildo é o caso Rubens Paiva”, afirmou Dallari.

“No país ainda se usa mecanismos criados desde a época de Getúlio Vargas”, afirmou a advogada Rosa Cardoso, integrante da comissão. “Temos que desmontar esses aparelhos de terror”, disse, referindo-se à tortura e coerção de presos.

Outro integrante da CNV, o professor de ciência política Paulo Sérgio Pinheiro afirmou que o recente monitoramento de movimentos sociais por parte do Exército é um escândalo. Ele disse que a democracia brasileira ainda está se consolidando, mas descartou a possibilidade de um levante militarista aos moldes do regime.

Nesta sexta, a comissão ouviu mais três pessoas no Rio: Celso Lauria, que atuou no Doi-Codi; Zilson Luiz Pereira da Cunha, que supostamente participou de violações de direitos humanos ocorridos no Estádio Nacional do Chile; e o sargento da Aeronáutica Luciano José Marinho de Melo, que supostamente transportou presos políticos.

Conclusão

Prazo. A Comissão Nacional da Verdade está em fase de conclusão dos trabalhos e entregará seu relatório à presidência da República e demais órgãos de governo em 10 de dezembro.

Justiça altera causa mortis de guerrilheiro

A Justiça reconheceu que o guerrilheiro Ruy Carlos Berbert foi morto sob tortura, aos 24 anos, na cadeia pública de Natividade, hoje Tocantins, em 1972. Pela decisão, o documento de óbito deixará de apontar suicídio, versão oficial colocada em xeque pelo jornal “O Estado de S. Paulo” há dois anos, com a publicação de fotos do corpo e relatórios inéditos.

A mãe do guerrilheiro, Ottília Vieira Berbert, 95, agradeceu ao juiz do caso por apagar a imagem do filho dependurado na cela.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

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