Em Curitiba, atingidos realizam audiência pública denunciando abusos da Companhia em relação às enchentes ocorridas no sudoeste do Paraná
Hoje pela manhã, integrantes do MAB, MST, sindicatos, deputados, vereadores e famílias de pequenos agricultores que moram nas áreas atingidas participaram de uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Paraná.
A audiência foi realizada através da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania e teve como objetivo denunciar a forma abusiva em que a Companhia Paranaense de Energia (COPEL) tem agido em relação às enchentes ocorridas na região sudoeste do Paraná.
O deputado estadual e presidente da Comissão, Tadeu Veneri, mediador da audiência, deu início ao debate com a fala de Daniela, atingida pela Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu, que realizou a leitura do Manifesto em Defesa dos Direitos das Famílias Atingidas pelas Enchentes.
O diretor-presidente da COPEL “surpreendentemente” não pode comparecer, mas enviou seu representante, Carlos Eduardo Medeiros, que escutou o depoimento do atingido de Baixo Iguaçu, Ailton Padilha: “Aqui, vocês têm seus salários, têm suas casas. Nós lá, estamos debaixo de lona, no meio da lama”.
O coordenador do MAB no Paraná, Rodrigo Zancanaro, começou sua fala reafirmando a responsabilidade da Usina de Salto Caxias, controlada pela COPEL, por ter aberto as comportas e, com isso, ter sido responsável pela tragédia na região.
“Temos duas situações no que diz respeito às enchentes, a primeira em relação às chuvas, a segunda diz respeito à abertura das comportas. Em Salto Caxias todas as 14 comportas foram abertas, sem nem ao menos avisar as famílias da região. Precisamos de uma ação efetiva da COPEL, queremos mudanças estruturantes, não só emergenciais”, afirmou Rodrigo.
Enquanto fotos da tragédia eram projetadas no telão, atingidos fizeram seus depoimentos:
Seu Waldomiro, de Realeza:
“Em primeiro lugar, gostaria de falar sobre Direitos Humanos. Nós ficamos por mais de dois dias totalmente isolados pela água, sem água potável, sem luz, sem telefone. Não apareceu ninguém nem pra ver se estávamos vivos ou mortos. Não se preocuparam nem em fazer nosso velório.Foi muito triste dormir e acordar sem nada, sem ter pra onde ir. Não é o dinheiro que vai resolver o problema. Precisamos retirar esse povo da área de risco.”
Senhora Alvira Flores, de Capanema:
“Venho fazer um relato do momento em que a usina soltou todas as comportas. Minha filha perdeu sua casa e perdeu todos seus pertences. As famílias da região são muito pobres e perderam o pouco que tinham. Faz 52 anos que eu moro na região lá, nunca ocorreu nada parecido. Tenho certeza que a culpa foi da barragem.”
Durante sua fala, Carlos Eduardo Medeiros, em nome da COPEL, como esperado, colocou a culpa na chuva e no governo federal. “Não foi só nessa região que houve enchentes, mas sim no estado inteiro do Paraná. A Copel não é a única que opera usinas no Rio Iguaçu, Nós só controlamos os trecho que temos concessão, quem tem essa responsabilidade de ação coordenada é o governo federal que pode observar de forma mais ampla o Rio como um todo.”
Prejuízo das famílias x Lucro da empresa
Quando indagado sobre as indenizações, ele afirmou que a empresa vem distribuindo cestas básicas e realizará visitas na região para realizar um “cadastro”.
Entretanto, o coordenador do MAB indagou: “Uma empresa que lucra 1 bilhão de reais por ano, até agora não pode apresentar um plano para prestar assistência a essas famílias. A política institucional que está sendo apresentada não vai resolver. Precisamos ter mais eficiência nas politicas apresentadas. Vamos ser práticos. As famílias estão debaixo de lonas, em ginásios municipais, perderam tudo o que tem, inclusive suas fontes de renda. Já são quase 20 dias do ocorrido e nada foi realizado. Estamos numa situação emergencial.”
Como resposta, Medeiros garantiu que a COPEL irá reparar os danos. “Não temos informação sobre orçamento liberado, mas garantimos que a empresa vai realizar diversas ações de reparo, estarei visitando pessoalmente as prefeituras.”
O MAB se manterá mobilizado permanentemente no estado até que todos os danos causados aos atingidos sejam reparados.
ÁGUA E ENERGIA NÃO SÃO MERCADORIAS!