Perto da Comary, jovens tentam pegar carona na Copa para ajudar a periferia

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“Além da Loucura” gravou vídeo clipe nas comunidades retratando a dura rotina e falta de investimentos em Teresópolis, cidade da Granja Comary

Eles chamam a atenção para a rotina das comunidades, que precisam de investimentos

Por Claudia Freitas, no Jornal do Brasil

Todos os holofotes estão voltados para a Granja Comary, luxuosa concentração da Seleção Brasileira na Copa do Mundo, em Teresópolis, região Serrana do Rio de Janeiro. Enquanto isso, a menos de 3 quilômetros dali, nos humildes bairros Granja Guarani e Ilha de Caxangá, um grupo de jovens procura projeção na mídia para retratar a dura realidade da periferia, especialmente quando já se vivenciou uma das maiores tragédias climáticas do país.

Através da cultura e usando apenas as redes sociais como instrumento de divulgação, o grupo aproveitou a proximidade da sede da CBF para “cantar” a vida dos meninos pobres que sonham em se tornar um jogador de futebol, apesar do abismo socioeconômico entre as comunidades carentes e as suntuosas instalações dos craques. Pegando uma carona na Copa, eles estão divulgando um vídeo clipe gravado em 2011, um dia antes das enchentes, como forma de chamar a atenção das autoridades e do público para a triste rotina nas comunidades e tentar atrair investimentos sociais e financeiros. 

A passos lentos, os bairros periféricos de Teresópolis superam o que ainda representa o maior trauma para a população da região, as enchentes de 2011. Já o Centro da cidade foi beneficiado com grandes incentivos do governo local para receber os turistas para a Copa do Mundo, atraídos pela estadia da Seleção. E foi nesse cenário que a juventude dos bairros da Granja Guarani e Ilha de Caxangá aproveitou para divulgar o seu projeto sociocultural, que tem como objetivo recolher donativos para as famílias mais afetadas pelas chuvas e mudar a realidade da cidade.

Apelidado de “Além da Loucura”, o grupo ficou mais conhecido na cidade pela sigla ADL, atuando como agentes culturais e como cantores de rap, usando a música como fórmula para protestar e, ao mesmo tempo, diluir a realidade das periferias em versos. No dia 11 de janeiro de 2011, por uma triste coincidência véspera da maior tragédia registrada no estado, o grupo gravou um vídeo clipe nas duas comunidades de Teresópolis, com canções que retratam a rotina e apresentando rimas de forte impacto social: “Campinho de terra, é aqui que o couro come/os mais habilidosos já driblaram a fome/nós perde o tampão do dedo mas num perde a dividida/e desde de pequeno tu sabe que  futebol é pra homem”.

Com o seu perfil crítico, o coletivo arregimentou fãs dentro e fora da cidade. Driblando os obstáculos pela falta de patrocínio, o grupo conseguiu gravar, mesmo com orçamento quase nulo, o clipe da faixa-título da mixtape Sonho de Menino. A produção aborda com sutileza e sagacidade os contrapontos entre o sonho de jogar na Seleção e as barreiras enfrentadas pelo jovem que vê nessa profissão uma saída para a dura realidade das periferias brasileiras.

“Esse trabalho vem imbuído de uma forte carga emocional, pois gravamos este clipe no dia 11 de janeiro, data da tragédia. No dia seguinte, estávamos dentro das comunidades que gravamos o clipe ajudando aqueles que foram atingidos”, comenta o produtor cultural e um dos fundadores do coletivo, Thomaz Garcia. “A intenção era ter lançado o clipe em sincronia com a Copa, mas em 2012 a situação das brigas nos estádios estava muito em evidência então resolvemos lançar antes, pois a produção também é um grito contra a violência nos estádios”, confessa o produtor.

Após a tragédia, o grupo se mobilizou para cumprir uma tarefa mais na esfera social. Todos os domingos, a partir das 18h, os Mcs Lord e DK e o produtor Thomaz Garcia reúnem uma média de 350 jovens na conhecida Roda Cultural do Alto que ocorre no espaço da Feirarte do Alto, lugar que concentra artesãos e pequenas confecções, considerada uma das maiores feiras de artesanato a céu aberto do estado. A meninada solta a voz para cantar rap, dançar na batalha do passinho e andar de skate.

A mesma dedicação acontece nas datas comemorativas e períodos do ano como Dia das Crianças, Páscoa e inverno, quando os ADL mobilizam um grande número de jovens para arrecadar brinquedos, ovos de páscoa e agasalhos para as comunidades mais afetadas. Das dificuldades com a falta de estrutura e de apoio do poder público, os ADL são um dos atores sociais que em meio a tantas adversidades vem mudando a realidade da cidade da Seleção.

ASSISTA AO VÍDEO DO GRUPO ALÉM DA LOUCURA:

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

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