Mobilização Nacional Indígena: Reunião com ministro da (in)Justiça fracassa em Brasília

Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, com a presidenta da Funai, Maria Augusta Assiratti, e o assessor especial Marcelo Veiga receberam 18 lideranças indígenas para ouvir as suas reivindicações. Foto:  André Dusek / Estadão
Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, com a presidenta da Funai, Maria Augusta Assiratti, e o assessor especial Marcelo Veiga receberam 18 lideranças indígenas para ouvir suas reivindicações. Foto: André Dusek / Estadão

Na pauta de reivindicações, havia questões polêmicas como a demarcação de terras, que permanecem sem resposta conclusiva

Por Jorge Macedo, no Estadão

BRASÍLIA – Após 2h20 de reunião no Ministério da Justiça, acabou sem definição o encontro que reuniu o ministro José Eduardo Cardozo e líderes indígenas. Na pauta de reivindicações, havia questões polêmicas como a demarcação de terras, que permanecem sem resposta conclusiva. Além de Cardozo, o encontro teve a presença da presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Maria Augusta Boulitreau Assirati.

Durante a audiência, um grupo de cinco indígenas se acorrentou no mastro que sustenta a Bandeira Nacional. Na saída, o cacique Uilton Tuxá (BA) afirmou que participou da pior reunião em 16 anos de luta. “Nunca imaginei que o governo do PT, que prega a democracia, agiria com tanta arbitrariedade. Foi decepcionante, o ministro disse que não assinará nada e insistirá na tentativa de construir mesas de diálogo”, desabafou.

O Ministério da Justiça afirmou, por meio de nota, que, após a reunião com lideranças indígenas, o ministro José Eduardo Cardozo garantiu que a pasta está empenhada em encontrar soluções para as questões apresentadas – por meio da mediação.

Revoltado com o resultado da reunião, Kretan Kaingang, um dos cinco acorrentados ao mastro da Bandeira, disparou contra o ministro. “Ele (Cardozo) é um mentiroso, não vamos aceitar quietos que retirem nossos direitos e passem por cima de nós. A partir de agora, vai haver guerra civil no País.”

Para simbolizar a indignação dos índios, um deles subiu no mastro e pintou a Bandeira do Brasil com urucum, corante vermelho utilizado no corpo durante os rituais. “Isso aqui representa nosso sangue”, gritou um índio no meio da multidão.

Concentrados em Brasília desde segunda-feira para a Mobilização Nacional Indígena, cerca de 350 índios foram para a Esplanada dos Ministérios protestar na frente do prédio do ministério. O grupo fechou os quatro acessos ao Palácio da Justiça logo pela manhã e exigiu uma audiência com Cardozo para debater a situação dos índios no País. Alguns mais exaltados tentaram invadir o prédio e bloquearam três das seis faixas do Eixo Monumental.

Índios se acorrentam no mastro da bandeira do Brasil em frente ao Ministério da Justiça. Foto: Fernando Bizerra Jr. / EFE
Índios se acorrentam no mastro da bandeira do Brasil em frente ao Ministério da Justiça. Foto: Fernando Bizerra Jr. / EFE

Arco e flecha. Segundo relatos de funcionários do próprio palácio, os índios apontaram arcos e flechas para os policiais que tentaram impedir a entrada do grupo. Logo após forçarem a entrada, sem sucesso, os manifestantes se espalharam em volta do ministério e estenderam faixas e cartazes falando de uma série de terras que precisariam de demarcação. Insatisfeitos com a postura de Cardozo, os presentes afirmaram que só deixariam o local quando fossem recebidos pelo ministro.

Depois de negociações, o ministério concordou em receber os líderes do movimento. Agendado para as 15 horas, o encontro iniciou-se com duas horas de atraso, momento em que Cardozo chegou ao auditório do Ministério da Justiça. Antes do início do encontro, o grupo de cinco índios se acorrentou ao mastro da Bandeira Nacional como forma de protesto, após o ministro querer reduzir de 20 para 12 o número de presentes na reunião.

Entre as propostas apresentadas, os indígenas exigiram a imediata publicação de todas as portarias declaratórias e decretos de homologação relacionados à demarcação de terras, que estariam parados sem razão. Além disso, pediram o fim da criminalização das lideranças e punição aos assassinos de índios e parlamentares que incitam o ódio.

Indígenas fizeram protesto em frente ao Ministério da Justiça. Foto: Fernando Bizerra Jr. / EFE
Indígenas fizeram protesto em frente ao Ministério da Justiça. Foto: Fernando Bizerra Jr. / EFE

 

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