Organizações de todo o país poderão desenvolver projetos de combate ao racismo que estavam comprometidos por falta de verbas. O prêmio Lélia Gonzalez, que distribuiu na última semana R$ 2 milhões, será o incentivo para que 13 entidades brasileiras, que trabalham com a autoestima e a autonomia de mulheres negras, possam iniciar ou continuar executando seus projetos.
O projeto Bahia Street, que há 18 anos cuida de meninas entre 6 e 17 anos em situação de vulnerabilidade social em Salvador, busca quebrar o ciclo da pobreza com educação e cidadania. Iniciado e desenvolvido com verba de entidades norte-americanas e há dois anos sem financiamento, a entidade vai usar o prêmio para ajudar a manter o centro de acolhimento, que recebe anualmente 75 meninas no turno contrário ao da escola.
As meninas têm reforço escolar, aulas de artes, alimentação, orientações úteis, como higiene e comportamento, e acompanhamento psicológico. “Com esse trabalho, queremos fazer com que essas meninas tenham consciência da realidade do racismo, do sexismo e das drogas e se defendam da melhor forma possível”, explica uma das fundadoras da entidade, Rita Conceição.
Na Paraíba, a Bamidelê – Organização das Mulheres Negras – tem, entre as ações do projeto premiado, promover a quarta edição da campanha “Morena não. Eu sou negra”, que eleva a autoestima da mulher. Além disso, o projeto pretende, com o dinheiro do prêmio, tirar do papel um projeto que vai trabalhar a imagem da mulher negra, com debates, palestras e oficinas, chamadas Enegrecendo a Pauta. Para a coordenadora da entidade Terlúcia Silva, a veiculação da imagem da mulher negra ainda traz muito racismo embutido.
A Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras, do Rio Grande do Sul, ganhou o prêmio apresentando o projeto de uma pesquisa nacional que mostra como o racismo afeta a vida de brasileiras de todos os níveis sociais. Para Simone Cruz, coordenadora do projeto, os resultados podem servir para desenvolver políticas públicas direcionadas para ajudar a resolver o problema do racismo. “Com a verba do prêmio, vamos começar imediatamento a pôr o projeto em prática”.
A antropóloga Lélia Gonzalez, homenageada pelas secretarias de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e de Políticas para as Mulheres da Presidência da República promotoras do prêmio, foi professora universitária, tendo publicado vários artigos e livros sobre as condições de exploração e opressão do negro e da mulher. Como não se via representada pelas entidades existentes, criou o Movimento Negro Unificado e é inspiração de diversos movimentos de mulheres negras existentes hoje.