“Quem quiser manifestar, pode! Mas quem quiser manifestar não pode prejudicar a Copa”, disse Dilma Roussef, nesta terça (13).
Nem sei nem por onde começar.
Primeiro, questões semânticas: o que “prejudicar” significa para ela? É claro que ninguém em sã consciência defende que se ateie fogo em ônibus de equipe estrangeira, queimando jogadores. Mas realizar protestos que causem congestionamentos no entorno dos estádios e prejudiquem a mobilidade entra na conta da presidente? Desconfio que sim.
Ou seja, dependendo do ponto de vista, qualquer coisa pode prejudicar a Copa e, portanto, ser alvo das forças de segurança federal e estaduais.
Além do mais, considerando que a Copa será o motivo dos protestos, o que os manifestantes deveriam fazer? Ir em um “protestódromo” e ficar gritando para as paredes?
Por fim, e talvez o mais importante, quem a presidente, governadores e prefeitos pensam que são ao dizer que a população pode ou não protestar? O direito à livre manifestação é mais importante que o mandato de qualquer um deles.
Adoro futebol – apesar de torcer para o Palmeiras e ser um goleiro de merda nas várzeas da vida. E vou acompanhar a Copa, beber e discutir inutilidades futebolísticas com os amigos. Mas isso não faz com que seja menos crítico à tragédia anunciada que foi a sua preparação.
Dilma disse que democracia não significa vandalismo, nem em prejuízo para a população para, logo depois, elogiar o novo terminal do aeroporto internacional de São Paulo.
Mas de que população ela está falando? Pois vandalismo foram os mais de 100 trabalhadores resgatados do trabalho escravo durante a construção do terminal. Ou as mortes nas obras dos estádios. Ou a esbórnia que é o relacionamento de empreiteiras com partidos do governo e da oposição.
E, por fim: por mais que o novo terminal de São Paulo seja importante para o país, gastar saliva elogiando obra envolvida com libertação de escravos logo nos 126 anos da Lei Áurea é o ó do borogodó.
“É uma obra excepcional. Acho de um má vontade terrível com o país.”
“Excepcional” seria se o trabalhador não fosse sempre o elo mais fraco. “Má vontade” é ver tudo isso e não falar nada.