Adital – Na madrugada de sábado, 10 de maio, o diretor da Casa Aliança Honduras, José Guadalupe Ruelas, foi surpreendido por policiais e militares quando saía de um evento de direitos humanos em um hotel de Tegucigalpa. Após uma moto se chocar propositalmente contra seu carro, Ruelas foi tirado do veículo com violência e agredido em frente à Casa Presidencial. Apesar do ocorrido, o ativista garante que não vai se calar e continuará denunciando o assassinato sistemático de menores no país.
Ruelas foi puxado do carro pelo pescoço, jogado no chão e agredido. Em seguida, levado a um posto policial, onde recebeu mais chutes e foi pisoteado. Ele foi obrigado a fazer o teste de embriaguez seis vezes e agredido ainda mais a cada resultado negativo. Ficou com marcas de bota no peito, no estômago e nas costas, além de ferimentos no rosto.
O ativista culpa o presidente hondurenho, Juan Orlando Hernández, pelo ataque sofrido e denuncia que a violência foi uma maneira de coibir as denúncias que vinha fazendo nas últimas semanas em vários meios de comunicação sobre as execuções de menores. Ruelas disse que o que sofreu não é nada se comparado ao que muitas crianças, adolescentes e jovens estão enfrentando em Honduras.
“Senhor Orlando Hernández basta, já basta dessa matança de meninos e meninas de Honduras, você é o único responsável pela política de segurança não estar funcionando no país, basta de tanta morte, por favor, pare e estabeleça uma verdadeira política de segurança no país, isso não tem nada a ver com números, isso tem a ver com vontade política”, pediu José Ruelas.
Desde o início do ano, a Casa Aliança Honduras, organização que trabalha na defesa de crianças e adolescentes, vem denunciando uma situação de massacre no país. Em relatório publicado recentemente apontou o assassinato extrajudicial de 352 menores de 23 anos, nos primeiros quatros meses de 2014. A organização também registrou quatros massacres em três dias, que deixaram como vítimas fatais 16 crianças menores de 12 anos e vem reclamando a falta de investigação, já que apenas um de cada 10 crimes é investigado. A entidade também critica a criação de um projeto executado pelo governo através das Forças Armadas, destinado a adolescentes, chamado “Guardiães da Pátria”.
O presidente hondurenho já demonstrou seu descontentamento com o trabalho de organizações sociais, sobretudo as voltadas à defesa dos direitos humanos. No discurso realizado no marco de seus 100 dias de governo, expressou que “existem organizações de direitos humanos que dão má fama ao nome de Honduras no exterior”. Recentemente, também houve uma tentativa de fechar várias organizações sociais com o argumento de que não estavam em dia com suas obrigações junto à Unidade de Registro e Acompanhamento de Organizações Civis.
Em comunicado, o presidente Orlando Hernández divulgou que já ordenou a investigação do caso de Ruelas e se realmente houver provas sobre a participação de policiais ou qualquer funcionário do governo, todos serão responsabilizados.