Ivanilda Torres e Glória Santos
Um grupo de 36 indígenas, entre homens, mulheres e crianças, do povo Apolima-Arara ocupou a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Cruzeiro do Sul na manhã do dia 5 de maio tendo como principal reivindicação a completa retirada dos posseiros da Terra Indígena (TI) Arara do Rio Amônia, cuja portaria demarcatória saiu em 2011 . O povo alega que está cansado de esperar do órgão a conclusão do processo de desintrusão, iniciado em dezembro passado e paralisado até o momento.
O clima de ameaças é intenso por parte dos moradores do lado da Reserva Extrativista bem como por parte dos traficantes peruanos. Inúmeros documentos foram enviados à própria Funai, Ministério Público Federal e Estadual, Polícia Federal, Exército e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), denunciado as ameaças de morte recebidas pelas lideranças, assim como a retirada ilegal de madeira tanto pelos ocupantes brasileiros como por peruanos, já que a terra indígena está localizada em região de fronteira com o Peru.
“Estamos nessa luta pela nossa terra há 17 anos e 17 anos não são 17 dias. Desde o início nunca foi fácil. Estamos com nossa terra demarcada desde 2009, mas não temos direito de usufruir dela livremente, pois os moradores do lado da Reserva Extrativista nos faz constantes ameaças e nos impedem de pescar nos lagos e de caçar. Nossas crianças que ainda estudam junto com os não índios são descriminadas na escola. Nos ameaçam de transitar livremente dentro da nossa terra já demarcada. Tudo isso que estou dizendo aqui já foi posto em inúmeros documentos e encaminhado aos órgãos competentes, mas nenhum tomou nenhuma providencia. Em dezembro a FUNAI iniciou o pagamento das indenizações, mas só os que eram do Assentamento do INCRA deixando os da Reserva, sendo estes os que mais nos causam problemas. O que nós percebemos é que esses órgãos querem que os não índios permaneçam na terra junto com nós, o que é impossível, devido ao que já falei. Diante disso, mesmo com todas as dificuldades, decidimos vir aqui até a sede da FUNAI e permanecer até que se tenha uma solução. Nós só sairemos daqui quando a FUNAI reiniciar os pagamentos das indenizações de todos os ocupantes da terra e resolver de fato esse problema.” Afirma o cacique geral, Francisco Siqueira.
As lideranças afirmam que alguns ocupantes indenizados, bem como os ocupantes ilegais (ocupantes de má fé) já extrapolaram todos os prazos dados para deixarem o território. No ato do pagamento, a Funai deu 30 dias para desocuparem a área e o povo Apolima-Arara mais 30. Vencido estes prazos os ocupantes ilegais continuam na terra e alguns, já indenizados, frequentemente adentram no território para pescar e caçar com cachorro.
Em reunião com grupo, o coordenador da Funai, Luiz Nukini, afirma que o impasse se dá pelo fato do ICMBio ter contestado e que a Funai em Brasília está buscando a melhor forma de solucionar o problema. Na manhã desta quarta feira (7) os indígenas se reuniram mais uma vez, agora com um grupo ampliado envolvendo representantes do Ministério Público Estadual e Polícia Federal em que foram repassadas as reinvidicações do grupo. Mas o impasse permanece, visto que a questão está entre o ICMBio e a Funai de Brasília.
O grupo permanece no prédio da Funai com seus tambores e flautas, reivindicando seus direitos. Não aceitam proposta de agenda e só deixam o prédio mediante a vinda da Equipe que fará o pagamento das indenizações bem como a retirada dos ocupantes ilegais.