A História da Polícia Militar do Rio de Janeiro parte III: Policiamento Comunitário

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Vocês não podem imaginar o que a negligência do governo com as favelas fez com esta cidade. É a falência do poder público”. (José Mariano Beltrame, Wikileaks, 2009)

Por Patrick Ashcroft*, em RioOnWatch

Com uma estratégia de policiamento que claramente não vinha resolvendo os problemas da violência nas favelas do Rio de Janeiro, uma mudança de política era necessária. Possibilidades alternativas de policiamento já haviam sido exploradas anteriormente de diversas formas, mas sempre faltou apoio político, social e econômico para terem qualquer sucesso.

De fato, várias tentativas de implementação de programas de policiamento comunitário antecederam o programa dasUPPs, lançado em 2008. O mais antigo defensor, do alto escalão do governo, de uma abordagem alternativa foi Nazareth Cerqueira, Chefe da Polícia Militar durante os dois governos de Leonel Brizola(1983-1987 e 1990-1994), que tentou alterar a forma como a polícia lidava com as favelas. Em uma abordagem pioneira, durante seu primeiro mandato como comandante, Nazareth utilizava documentos de policiamento comunitário traduzidos do inglês e incluídos em manuais de treinamento policial, encorajando troca para que os chefes de polícia brasileiros pudessem ver como outros países funcionavam. (mais…)

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O Exército de Pinus, por Elaine Tavares

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Fotos: Elaine Tavares. [No meio dos monstrinhos, uma araucária esquelética tenta resistir. Até quando? TP.]

Em Palavras Insurgentes

Já é noite fechada quando o carro passa velozmente pela cidade de Lages rumo à região do Contestado, em Santa Catarina. A lua cheia no céu é puro esplendor. A luz é tanta que ilumina  campos e matas, construindo sombras fantasmagóricas. De repente, no meio da escuridão surge outra luminosidade, uma espécie de nave-mãe, encravada no meio do verde. Com ela, um cheio ruim, uma náusea.

– O que é aquilo?

– É a Klabin. A fábrica de papel. Parece uma ferida na mata, né? – Ninguém diz nada, prisioneiros daquela cena bizarra.

O carro segue em direção à Caçador. As sombras continuam a se delinear no horizonte. Ao longe julgo ver uma fileira de gente andando, muita gente. Penso em João Maria, o monge, conduzindo seu povo rumo à mítica Taquaruçu, a cidade santa do Contestado. O velho que enfrentou o exército, o medo, a dor e empurrou as gentes à luta contra a estrada de ferro inglesa que cortava Santa Catarina e lhe levava as terras, tornando o povo escravo em seu próprio lugar. João Maria e sua gente combateram o invasor. Foram até o fim e hoje são estrelas fulgurantes da história deste chão, estudados na escola e reverenciados por todos aqueles que buscam liberdade. Apertei os olhos para ver. Mas não era ele. A fileira que eu via, mal iluminada pela lua cheia, era feita de pinus elliotis, milhares, milhões. Não eram gentes em busca de vida digna. Era um novo invasor. (mais…)

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