Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental
Há momento em que a revolta é tanta, que a gente sequer consegue expressá-la num texto. Fica com ele entalado na garganta, com o coração parecendo comprimido, com a indignação quase explodindo em lágrimas. Tenho estado assim nos últimos dias, e pior ainda fico quando decido olhar as páginas e portais de Apuí e Humaitá, principalmente, onde, apesar da Recomendação do MPF e de muitas coisas terem sido apagadas ou editadas, o que ainda existe é suficiente para que se tenha uma ideia ainda que tênue das coias que foram retiradas.
Na entrevista coletiva que deu ontem na Prefeitura de Humaitá, o delegado Alexandre Alves, da Polícia Federal, afirmou que “pela primeira vez, desde o desaparecimento dos homens em 16 de dezembro, caciques tenharim prometeram ajudar nas investigações”. A informação é da reportagem de Kátia Brasil no portal Amazônia Real, que reproduzimos hoje cedo. E, ao editá-la, não consegui me conter, ao ler essa declaração, e marquei-a com um [sic]. Não me referia ao texto de Kátia Brasil, esclareço, mas à declaração do delegado. Afinal, há dias venho procurando tempo e condições para escrever exatamente sobre essa questão. O delegado e a Funai facilitaram a coisa, agora.
Na Nota que acabo de postar, a Funai afirma, num parágrafo que negritei:
É preciso deixar claro que não houve um suposto impedimento dos índios para realização de buscas na Terra Indígena. Ao contrário, a FUNAI e os indígenas de Humaitá se colocaram a disposição, desde o início, para colaborar com qualquer tipo de operação de busca naquele local.
Acontece que a foto acima, postada e repetida em diversos espaços da internet desde o dia 21 de dezembro, mostra exatamente a reunião da qual participaram Polícia Federal, Funai e lideranças indígenas, para discutir a questão das três pessoas desaparecidas.
Passei boa parte desta manhã procurando um post em especial, que continha entre outras duas informações específicas: (1) a de que as lideranças indígenas afirmavam não terem qualquer conhecimento relativo ao paradeiro das três pessoas; e (2) a de que iriam procurar se informar a respeito e ajudariam nas buscas. Recordo que isso foi motivo de galhofas, revoltas e incitações a mais violências, por parte de pessoas que chegaram, em pelo menos dois casos, a afirmar (em outro post) que os três foram “torturados, assassinados, cortados em pedaços e queimados” pelos Tenharim.
Infelizmente não encontrei essa notícia específica, sobre a reunião. Mas localizei diversos outros posts, alguns editados, e todos divulgados por pessoas que decididamente muito longe estariam de querer desmentir o delegado, comprovar a Nota da Funai ou de qualquer forma ajudar aos indígenas. Abaixo, publico dois deles, com a data e origem. O primeiro é do facebook, como pode ser visto inclusive pelos comentários iniciais. No segundo, na matéria é dito inclusive que o Superintendente da Polícia Federal em Rondônia, delegado Carlos Gaia, teria pedido ajuda aos Tenharim nas buscas.
Para encerrar, uma versão publicada ontem, dia 30 de dezembro, de um texto antes restrito às páginas do facebook, no qual é narrado como os Tenhariam teriam assassinado os três homens. E, em seguida, foto de uma das postagens originais, bem menos cuidadosa. Acho que isso basta.
Uma observação ainda: nesta versão de ontem, há uma informação final entre parênteses, afirmando (de forma irônica?) que o texto acima seria “mera suposição”, e que “qualquer semelhança com a realidade dos fatos serão [sic] meras coincidências”. Nas do facebook, essa informação, jocosa ou não, inexistia. Aliás, muito ao contrário, como podemos ver abaixo, já numa versão amenizada depois da ação do MPF e seguida de um comentário conclusivo:
Não se sabe até o momento, Adão.
a final o que aconteceu com os cidadão de humaitá?????