O CQC, a exceção e a regra: Cuatro Cabezas produz vídeo ‘pedagógico’ sobre racismo para o CQC

Por Douglas Belchior

Já escrevi vários textos sobre o importante papel da mídia, em especial da TV, na reprodução sistemática do racismo no Brasil.

Salvo raras exceções, os programas de TV atuam a partir de duas possibilidades: ou tornam invisível o corpo negro ou o apresentam de maneira depreciativa, pejorativa e preconceituosa.

Mais especificamente sobre os programas de humor na TV brasileira, em alta hoje em dia, as opiniões se dividem basicamente em duas posições: as que defendem que o comediante não tem compromisso com a sociedade para além de fazer rir, independentemente do alvo; e as dos que acreditam que a comédia, para ter qualidade, precisa ir além do senso comum e não ter como objeto de suas elaborações grupos já estigmatizados e historicamente oprimidos.

O programa C.Q.C – Custe o Que Custar, exibido pela Rede Bandeirantes, talvez seja o mais emblemático exemplo do gênero “humor inteligente” que, a bem da verdade, é bem inteligente no sentido de reafirmar estereótipos racistas, machistas e homofóbicos, além do sempre presente preconceito de classe.

Pudera! Dali saíram, para voos mais altos, “humoristas” do nível de Rafinha Bastos e Danilo Gentile, cujas fichas corridas por denúncia de racismo, ofensa machista e homofobia, já dobram a esquina.

Mas, para dar ainda mais razão aos Racionais: “Tenha fé, porque até no lixão nasce flor”… E não é que justamente daí surge a tal da rara exceção – aquela mesmo que comprova a regra:

Produzido pela Eyeworks Cuatro Cabezas – a mesma produtora do programa “A LIGA”, o quadro “Documento da Semana” já havia chamado a atenção por abordar de maneira consistente e crítica temas complexos e polêmicos – ainda mais tratando-se da Band, como a homofobia, a realidade da favela do Heliópolis , racismo na mente das crianças e até mesmo, pasmem, um sobre a chegada dos médicos cubanos, este em especial, uma verdadeira peça pedagógica exibida em pleno calor do debate naquele momento.

Em razão do 20 de Novembro, dia Nacional da Consciência Negra, a ‘Cuatro Cabezas’ produziu também a matéria batizada como “Democracia Racial”, cujo pano de fundo fora justamente a negação do racismo enquanto determinante de desigualdades, injustiças e muita violência no Brasil.

Embora com muito receio, participei do programa. O resultado do trabalho está registrado do vídeo acima.

Há muitos grupos e produtoras, pequenas e/ou independentes que produzem materiais com abordagem crítica, realista e comprometida com o avanço dos direitos sociais e da justiça. Mas é verdade que o trabalho da produtora Cuatro Cabezas é, no contexto das grandes emissoras de TV aberta, uma exceção que comprova a perversa regra.

Esse exemplo nos mostra também que a produção televisiva poderia ser muito melhor do que é e que, portanto, trata-se de uma questão de opção não só artística, mas sobretudo política e ideológica.

Vamos falar sobre Democratização dos Meios de Comunicação?

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