Terena: “Vivência nas retomadas combate cultura de assimilação imposta pelo Estado”

meninos terena
Assembleia Terena, Foto – Ruy Sposati

Por Ruy Sposati, de Nioaque (MS). da Assembleia Terena, em Cimi

“Para uma criança, um dia numa retomada vale mais do que um ano de aula”. A frase é do indígena Lindomar Terena, liderança da retomada Charqueado, em Miranda (MS), onde vive com sua esposa e seus três filhos de 2, 3 e 5 anos de idade.

Por falta de espaço, as reservas indígenas tornaram-se grandes bairros semi-urbanizados periféricos às cidades. Muitas vezes sem acesso a florestas, rios e áreas de cultivo, as novas gerações Terena vem perdendo o elo com a natureza e suas tradições. “Tem criança que já não sabe nadar, não sabe andar no mato, não sabe plantar”, explica Pedro Lulu, liderança da retomada Esperança, na terra indígena Taunay/Ipegue, no municíoio de Aquidauana (MS). “A retomada muda isso. Na retomada a gente reencontra nossa tradição”.

A escola da Terra Indígena Buruti foi transferida para dentro da área da retomada. “Era bonito ver as crianças lá batendo a taquara, botando a palha pra fazer a escola”, conta o professor Alberto Terena, da retomada Buriti, onde foi assassinado Oziel Terena. “Lá, as crianças vêem os guerreiros pintados, vêem o lado do índio que nas reservas muitas vezes desparece”.

Ao longo da primeira metade do século vinte, milhares de indígenas foram expulsos de seus territórios originários para dar lugar ao loteamento e colonização da região através de uma política do Estado, que abria a região para o capital privado. O Serviço de Proteção ao Índio (SPI), antigo órgão indigenista do governo, criou então as reservas indígenas – territórios demarcados pelo Estado ao longo da primeira metade do século vinte para acolher os indígenas expropriados. Com o crescimento populacional, as reservas tendem a se tornar espaços de confinamento, onde os indígenas são impelidos a trabalhar fora de seus territórios, e a produção e reprodução da vida torna-se quase impossível.

“A retomada traz muito ânimo pra luta. Com a retomada voltamos às nossas origens, ao ‘índio natural’,  vivenciando o que nossos antepassados passaram”, conta Estevinho, também de Taunay/Ipegue. “A retomada é uma aprendizagem, ensina a resgatar a cultura”.

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