Por Alenice Baeta*
Situada nas proximidades do Parque do Ibirapuera e da Assembléia Legislativa de São Paulo a obra em granito do escultor ítalo-brasileiro Victor Brecheret foi uma homenagem monumental ao ‘Colonizador’, em 1954. Representa um grupo de pessoas a pé, dentre eles índios, mamelucos e negros puxando uma grande canoa ou piroga, comandados à frente por imponentes bandeirantes sobre belos cavalos, mas com as rédeas bem frouxas. Atrás há ainda um homem a empurrando. Esta obra ficou popularmente conhecida como ‘Empurra Empurra’ ou ‘Deixa que eu empurro’.
Me causa consternação quando fico sabendo de depredações em bens culturais, mas concordo com alguns analistas que talvez o dito ‘vandalismo’ e reafirmo, nesta situação específica aqui tratada, possa sim ser uma ‘releitura’ ou ainda uma tentativa de acrescentar ao ‘monumento oficial da colonização’ um elemento novo e obliterado outrora e que emerge na perspectiva da ‘história dos vencidos’: a tinta vermelha como o sangue derramado no processo de incursão dos bandeirantes portugueses e paulistas que causaram o extermínio e a escravização de muitos povos indígenas e escravos africanos no processo de colonização das ‘minas geraes’ ou ‘campos dos cataguases’ e tantas outras plagas do interior.
A frase inscrita na base do monumento na ocasião da manifestação contra a PEC 215: ‘Bandeirantes Assassinos’ pode dizer muito mais para as novas gerações; apresentando-se como uma obra aberta e emblemática, em reconstrução. Parece ter se tornado na terra dos bandeirantes um novo ícone da luta dos povos indígenas por seus direitos e visibilidade social.
*Alenice Baeta – Colunista do CEDEFES.
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Enviada por Pablo Matos Camargo para lista CEDEFES.