
Por Alenice Baeta*
Situada nas proximidades do Parque do Ibirapuera e da Assembléia Legislativa de São Paulo a obra em granito do escultor ítalo-brasileiro Victor Brecheret foi uma homenagem monumental ao ‘Colonizador’, em 1954. Representa um grupo de pessoas a pé, dentre eles índios, mamelucos e negros puxando uma grande canoa ou piroga, comandados à frente por imponentes bandeirantes sobre belos cavalos, mas com as rédeas bem frouxas. Atrás há ainda um homem a empurrando. Esta obra ficou popularmente conhecida como ‘Empurra Empurra’ ou ‘Deixa que eu empurro’.

(Foto: Felipe Raul)
Me causa consternação quando fico sabendo de depredações em bens culturais, mas concordo com alguns analistas que talvez o dito ‘vandalismo’ e reafirmo, nesta situação específica aqui tratada, possa sim ser uma ‘releitura’ ou ainda uma tentativa de acrescentar ao ‘monumento oficial da colonização’ um elemento novo e obliterado outrora e que emerge na perspectiva da ‘história dos vencidos’: a tinta vermelha como o sangue derramado no processo de incursão dos bandeirantes portugueses e paulistas que causaram o extermínio e a escravização de muitos povos indígenas e escravos africanos no processo de colonização das ‘minas geraes’ ou ‘campos dos cataguases’ e tantas outras plagas do interior.
A frase inscrita na base do monumento na ocasião da manifestação contra a PEC 215: ‘Bandeirantes Assassinos’ pode dizer muito mais para as novas gerações; apresentando-se como uma obra aberta e emblemática, em reconstrução. Parece ter se tornado na terra dos bandeirantes um novo ícone da luta dos povos indígenas por seus direitos e visibilidade social.
*Alenice Baeta – Colunista do CEDEFES.
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Enviada por Pablo Matos Camargo para lista CEDEFES.