Por Tatiana Félix – Adital
Rose Meire dos Santos Silva “roubou” a cena durante o lançamento da Coalizão Democrática pela Reforma Política e Eleições Limpas, na tarde desta terça-feira (3), na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília, Distrito Federal. Com coragem, ela levantou sua voz e mesmo sem ter tido acesso ao microfone, denunciou a situação de violações que há anos acontece na comunidade quilombola Rio dos Macacos, em Simões Filho, na Bahia, onde mora.
“Vim pedir para os Bispos ajudar a comunidade, pois sabemos que nossa comunidade está morrendo. Eu sei que vou morrer, mas não quero que minha filha viva desse jeito”, disse.
Rose se refere à invasão da Base Naval de Aratu da Marinha de Guerra do Brasil no território de remanescente de quilombo. Segundo ela, mais de 70 famílias já foram expulsas da comunidade desde a década de 70, para dar lugar à construção de casas militares.
“A comunidade está há mais de 200 anos neste território, mas destruíram nossos terreiros, a nossa cultura. Fomos impedidos de plantar, os pés de manga estão morrendo. A gente é perseguido dia e noite, a gente não recebe visita, às vezes temos que dormir na rua porque eles não deixam entrar na comunidade quando a gente sai”, relatou.
Rose explicou que decidiu fazer essa intervenção porque “não tem nada na comunidade”: não tem escola, nem acesso à saúde, não podem receber visitas e nem pode entrar nenhum representante religioso para levar a palavra de Deus. Com 34 anos de idade, ela afirmou que não sabe ler nem escrever porque não teve acesso à educação. “Educar os filhos é difícil, já perdi pessoas da minha família por falta de atendimento médico”.
A quilombola denunciou ainda a ameaça frequente dos militares contra os moradores, apontando armas na cabeça de qualquer um, independente da idade, sejam bebês ou idosos. Apesar de já terem denunciado a situação de violência dentro dos quilombos para órgãos públicos, ela disse que nada foi feito. “Existe ordem de despejo contra a comunidade, mas nós resistimos”.
Com 301 hectares, o quilombo Rio dos Macacos é reconhecido pela Fundação Palmares e, embora o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) tenha feito o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTD), que reconhece o território como remanescente de quilombo, o documento ainda não foi publicado no Diário Oficial. “Pedimos nossa Carta de Alforria para a presidente Dilma, a titulação das nossas terras”, finalizou.
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ruben Siqueira.