Por Haroldo Heleno, Cimi Regional Leste – Equipe Itabuna (BA)
Cacique Babau entregou o manifesto Povos Indígenas: aqueles que devem viver ao coordenador residente das Nações Unidas no Brasil Jorge Chediek. A liderança Tupibambá solicitou apoio da ONU para a resolução das questões fundiárias envolvendo os territórios indígenas e os graves desrespeitos e violações aos direitos indígenas cometidos pelo governo brasileiro.
A entrega do Manifesto ocorreu durante a abertura da 11ª Conferência anual do Bramun – Brazil Model United Nations -, no Hotel Iberostar, Praia do Forte, na Bahia. O evento foi aberto na noite desta quarta-feira, 20, e vai até o próximo domingo, 24, reunindo cerca de 370 jovens alunos oriundos de 18 escolas internacionais de todo o Brasil, além de Panamá e Argentina. Cacique Babau falou na abertura do evento. O manifesto entregue ao representante da ONU é uma publicação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e denuncia os decretos de extermínio impostos aos povos indígenas no Brasil.
Na apresentação do manifesto, Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia (MT) destaca que: “Há 500 anos o índio é aquele que deve morrer. 500 anos proibidos para esses povos classificados com um genérico apelido, negadas as identidades, a vida diferente e alternativa. 500 anos de sucessivos impérios invasores e de sucessivas oligarquias herdeiras da secular dominação. 500 anos sob a prepotência de uma civilização hegemônica, que vem massacrando os corpos com as armas e o trabalho escravo e as almas com um deus exclusivo. Por economia de mercado, por política imperial, por religião imposta, por bulas e decretos e portarias pseudocivilizados e pseudocristãos. Já se passaram, então, 500 anos para aqueles povos que tinham que morrer e, finalmente, mesmo continuando as várias formas de extermínio, os Povos Indígenas são aqueles que devem Viver”.
Este aspecto também foi abordado pelo Cacique Babau durante a sua intervenção na 11º BRAMUN. O cacique também confirmou um trecho do manifesto que diz: “Que este decreto de extermínio vislumbra o desenvolvimentismo dominante e antropocêntrico que desconsidera a importância de outros seres, dos animais, das plantas, em favor da expansão das fronteiras agropecuárias para o monocultivo de grãos, produção de biocombustíveis, plantio de eucaliptos, criação de gado em larga escala, que geram impacto não só na vida dos povos indígenas, como também nas terras, nas águas, nas matas, ameaçando o equilíbrio ecológico”.
Babau afirmou: “Os invasores querem que falemos sua língua, que professemos a sua religião e que pensemos como eles. A ganância deles é muito grande, tudo para eles é mercadoria, o ar, as plantas, os animais. Eu sempre falo em ser vivente e não só em ser humano, pois todos os seres sobre a terra devem viver e ser respeitados”. O Cimi publica esse segundo manifesto no intuito de concretizar a profecia anunciada pelo Y- Juca Pirama: “Chegou o momento de anunciar, na esperança, que aquele que deveria morrer é aquele que deve viver”. Na oportunidade, o Cimi entregou ao Diretor da Pan Americana School of Bahia Janelle Barrett o relatório de violências contra os povos indígenas 2011 e alguns exemplares do jornal indigenista Porantim.
Lágrimas e sorrisos
A fala de cacique Babau emocionou a todos e todas. Os relatos de violências praticadas contra a comunidade Tupinambá da Serra do Padeiro e contra os demais povos indígenas do país causaram profunda comoção. A clareza e força de Babau, que não abandonou seu típico sorriso, impressionaram os representantes estrangeiros.
O Modelo das Nações Unidas é uma simulação acadêmica da Organização das Nações Unidas (ONU), que visa promover a cidadania global entre seus participantes e envolve as relações internacionais, a arte da diplomacia, a formação de consenso e a compreensão das Nações Unidas como instituição e seu funcionamento.
A abertura do evento contou além da fala do cacique Babau, Jorge Chediek (Coordenador residente das Nações Unidas no Brasil), Janelle Barrett (Diretor da Escola Pan Americana na Bahia) e de Issa Nasr (Secretário Geral da Bramun). Foram exibidos vários vídeos abordando temáticas ligadas à defesa dos direitos humanos no mundo, bem como de denúncia de violações.
—