Evasão escolar alta é problema entre jovens entre 18 e 24 anos

Ana D’ângelo, Simone Caldas e Geórgea Choucair

Um dos maiores problemas para jovens no Brasil é a evasão escolar. E o drama de deixar os estudos é motivado pelo atraso na sala de aula, segundo Betina Fresneda, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São alunos que, antes de abandonarem os estudos repetem de ano mais de uma vez e, com pouco domínio da matemática e do português tem dificuldade em arrumar emprego. “Eles ficam mais suscetíveis no futuro à exclusão social e à dificuldade de inserção no mercado de trabalho. O atraso escolar vai gerando consequências mais graves conforme passa o tempo”, observa Fresneda.

O desalento bate à porta de milhões de jovens, que optam por desistir até mesmo de trabalhar. Há um contingente de 6,3 milhões de brasileiros entre 18 e 24 anos que nem trabalham nem estudam, conforme dados da Pesquisa por Amostragem de Domicílios (Pnad) de 2011 fornecidos pelo IBGE a pedido do Estado de Minas. Chamados “nem nem”, representam uma quantidade expressiva e preocupante — 19% do total de pessoas nessa faixa etária. A situação fica mais grave ainda quando se compara com 10 anos atrás. Quase nada mudou, apesar do crescimento econômico brasileiro dos últimos anos, da ascensão de milhões de famílias à classe C e da maior oferta de vagas nas escolas e de emprego. Em 2001, eles representavam os mesmos 19% do total de jovens. Sabe-se que esse quadro estava um pouco melhor em 2009 em relação a 2001, mas voltou a piorar em 2011.

O professor da Fundação Getulio Vargas Fernando Holanda Filho está investigando esse grupo. A maior parte, diz, é de mulheres – a incidência é elevada entre as que têm de 20 a 24 anos. Nessa lista, estão aquelas que optam por ter e cuidar dos filhos, enquanto o marido fica responsável pela renda da família. Holanda adianta ainda que a maioria dos “nem, nem” tem baixa qualificação e está nas camadas de renda mais baixas da população. Segundo Holanda, apenas 2% dos jovens que nem estudam nem trabalham pertencem a famílias com renda superior a cinco salários mínimos, em torno de R$ 3,1 mil atualmente.

Perspectivas

A professora do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Regina Madalozzo observa que a má qualidade do ensino brasileiro contribui para não oferecer perspectiva de longo prazo, principalmente, aos jovens das classes de menor renda, que vivem em lares onde os pais também têm baixa escolaridade — de que aquele estudo vai ser determinante para melhores condições de vida no futuro. E há exemplos.

A recreadora infantil Regiane dos Santos Peixoto, de 26 anos, já trabalhou como operadora de caixa em supermercado, foi manicure e vendedora de loja. Sempre sonhou com a faculdade, mas achava que a hipótese estava longe de sua realidade. O sonho se tornou real. Regiane acaba de passar no vestibular de pedagogia no Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH). Sua mãe é faxineira e o pai vigia. Os dois não conseguiram terminar o ensino fundamental e se orgulham da filha, que é a única da família de mais de 20 pessoas (entre primas e tios) a entrar para a faculdade. “Depois que terminam o segundo grau, eles acham que já acabou o período de estudo”, diz.

Atualmente Regiane trabalha como recreadora infantil e recebe R$ 622. O marido, também vigia, tem renda de R$ 1 mil. Ela pagou R$ 568 de matrícula na faculdade e o valor da mensalidade vai ser o mesmo. “Estou tentando conseguir uma bolsa. Se eu não conseguir, vou ter que fazer esforço para pagar, pois estou muito feliz”, comemora.

Enviado para Combate ao Racismo Ambiental por José Carlos.

http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2012/12/23/internas_economia,338969/evasao-escolar-alta-e-problema-entre-jovens-entre-18-e-24-anos.shtml#.UNbfB_hCjV4.gmail

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