Cerca de 150 pessoas protestaram hoje em Altamira, na frente da sede da Justiça Federal. Os manifestantes instalaram uma árvore de natal com galhos secos e pacotes simbolizando os 56 processos contra Belo Monte e em defesa dos direitos das populações do Xingu que aguardam julgamento.
O protesto, organizado pelo Movimento Xingu Vivo Para Sempre, faz parte da Campanha Belo Monte Justiça Já! e ocorre no dia do aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
“Aqui em Altamira está um caos, os moradores estão sendo expulsos sem respostas, estão sendo arrebentados e chutados de seus lares, onde construíram vidas… são almas! Eles são expulsos de uma forma macabra”, bradou o Dom Erwin, o bispo da Prelazia do Xingu, que participou do protesto.
Obrigado a sair da comunidade do Santo Antônio, onde viveu por mais de 30 anos, para dar lugar ao canteiro de obras de Belo Monte, Élio Alves Silva estava indignado: “Eu bati na porta da justiça federal e ninguém me atendeu. Eu sou um pescador…eu era um pescador. Eu vivi a minha vida como pescador…e hoje não tenho mais direito nem de pisar onde eu pescava. Eu estou sem opção, profissão, eu estou sem emprego, e antes eu vivia da terra e da pescaria… A Norte Energia me arrancou de lá, sem direito a eu recorrer a nada… me arrancaram de lá e eu tive que baixar a cabeça, e sair calado… Tive que deixar tudo pra trás, aquilo que eu vivi, aquilo que eu construí. Estamos num país onde não tem justiça… Uma vida que eles tiraram para destruir”, disse.
Antonia Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, destacou que “as famílias da cidade estão assustadas e desesperadas. O projeto da Norte Energia para reassentamento das famílias foi modificado de novo e agora eles dizem que só vão construir casas de 60 metros quadrados, desconsiderando o que tinha prometido. Até agora nenhum reassentamento foi realizado, e comunidades tradicionais como a de Santo Antonio e comunidades ribeirinhas são expulsas mediante indenizações irrisórias, quando pagam, e sem respeito à suas culturas e raízes. A população nunca foi consultada e tem tido seus direitos violados sucessivamente” e que “enquanto os 56 processos que expõem as ilegalidades e violações de direitos humanos de Belo Monte ficam engavetados no judiciário, os processos da Norte Energia e do governo federal são rapidamente julgados em favor da empresa e contra os direitos da população”.
Cecílio Kayapó, pescador indígena que participou de um mês de protestos no sítio pimental, chorou ao falar que a Norte Energia e Ibama não reconheceram os impactos sofridos pelos pescadores, que vem denunciando a diminuição dos peixes na região da Volta Grande do Xingu. “Estamos sendo enrolados enquanto perdemos nossa condição de sobrevivência”, indigna-se.
Sindicalistas ligados à luta pelos direitos dos trabalhadores da construção civil criticaram Belo Monte e a prisão de 5 suspeitos de ter incendiado um alojamento no canteiro de obras:
“Índio, fauna, flora, ribeirinhos, tudo isso está sendo massacrado, e com isso vem a questão das injustiças… quem são os presos agora? quem está preso? os operários… são aqueles que constroem, aqueles que começam do chão e constroem as grandes obras pra eles…eles são massacrados… é uma injustiça. Nós estamos vivendo no período da ditadura onde Altamira está militarizada. tem polícia militar, tem exército, e isso além das forças privadas. Esses cinco trabalhadores são presos políticos. Estão presos sem prova. Liberdade para os operários!!!”
A estudante Karoline Militão Mendes, 15, descreveu a manifestação nestas palavras: “Foi um dia muito representativo, chegamos e começamos a falar a verdade, começamos a manifestação com poucas pessoas, mas foram chegando estudantes e fechamos a rua, em frente a justiça federal. Os atingidos e desabrigados por Belo Monte começaram a falar suas histórias e o quanto estão sofrendo com isso. Estão lutando pelos direito deles, a frase que marcou foi a frase ‘’lutar não é crime. é um direito’’! Todos atentos e comovidos com a história dos trabalhadores, ribeirinhos,agricultores,enfim todos os que serão e estão sendo afetados por Belo Monte. A participação de jovens foi muito surpreendente. Os seres humanos têm direito a saúde e estudo de qualidade. A Norte Energia é um monstro, o ser humano é capaz de matar a si e a muitos por ganancia, perdi minha infância… a Norte Energia tirou minha infância.”
Karoline e sua família foram obrigados a deixar sua terra em Fevereiro de 2012, sobrevivem atualmente de favores e até hoje não receberam nenhuma indenização.
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Manifestação em Altamira exige julgamento de ações contra Belo Monte