“Não entendo como o conhecimento científico possa ser colocado antes a serviço das justificativas do que de críticas aos argumentos das empresas”, lamenta o engenheiro agrônomo
A soja transgênica Intacta RR2 Pro, que causou polêmica entre os produtores do Mato Grosso, incorpora um novo trangene e resiste “a banhos de herbicidas à base de glifosato, como também carrega, em todas suas células, uma toxina que não está presente na soja convencional”, diz o engenheiro agrônomo, Leonardo Melgarejo, à IHU On-Line em entrevista concedida por e-mail. Para ele, a crítica dos produtores à Monsanto, por comercializar o produto antes da aprovação do mercado chinês, é “coerente”. “Os produtores se preocupam com a contaminação das cargas destinadas à exportação, que poderiam ser rejeitadas pelo maior mercado consumidor da soja brasileira. As implicações seriam enormes, pois, uma vez liberado o plantio, a contaminação seria inevitável”, salienta.
De acordo com Melgarejo, a Intacta RR2 Pro promete reduzir o uso de inseticidas e combater lagartas que “prejudicam” a produção. Entretanto, esclarece, “o que costuma ocorrer é que os insetos-alvo terminam adquirindo resistência, e, mesmo antes disso, outros insetos que eram pragas secundárias crescem em importância, exigindo tratamentos químicos que antes não eram realizados”. Representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA na CTNBio, o agrônomo ressalta que “não há sequer um acompanhamento” de plantio transgênico e não transgênico. “Dispomos apenas de estimativas com base na comercialização de sementes, que ocultam dados relativos ao contrabando e ao uso de sementes próprias”. E dispara: “Ademais, o milho e a soja entram em praticamente todas as cadeias de alimentos processados. A única maneira de assegurar ausência ou pelo menos redução no consumo de transgênicos, isso na alimentação de qualquer família, reside na aproximação com redes de produtores orgânicos”. (mais…)