Peça de grafite exposta no Centro Cultural São Paulo rompe paradigmas, ao pintar favela de forma não pejorativa – como muitos nunca viram
Por JR Penteado
Quem vai ao Centro Cultural São Paulo (CCSP), no metrô Vergueiro, pode ver na área conhecida como ‘foyer’ uma peça de grafite recém-terminada. Ainda exalando cheiro de tinta fresca, três cercados de madeira, de aproximadamente 2metros de altura cada, trazem em suas superfícies o desenho de uma favela. A peça faz parte da mostra Estéticas das Periferias e é assinada pelo grupo OPNI, um acrônimo para Objetos Pixadores Não Identificados.
O que se vê nessa obra, entretanto, não é miséria, pelo contrário; é a favela e o seu lado belo, perceptível no brilho dos olhos de crianças sorridentes, na harmonia do colorido que reveste as casas, e até no mágico que se vislumbra em um navio rasgando o alto do céu.
Val, 29, é um dos três integrantes do OPNI. Ele e seus parceiros trabalharam na peça cerca de cinco horas diárias durante três dias, até sua finalização na última quinta-feira. Pelo telefone, conversei um pouco com ele sobre o trabalho exposto no CCSP.
Gostaria que me falasse um pouco sobre esse grafite que vocês fizeram.
VAL – Aquilo lá é a temática do dia-a-dia do nosso bairro, São Mateus. A gente retratou o que a gente vê, as pessoas andando pra cima e pra baixo, as mulheres, as crianças. Destacamos a comunidade de uma forma poética e não pejorativa como a maioria das pessoas estão acostumadas a ver.
Por que do navio que voa no céu?
VAL – Porque para mim o navio negreiro moderno de hoje é a favela. É um navio feito de alvenaria, em que as pessoas estão condicionadas a ficar só ali na favela. Por isso que chegar no Centro Cultural é um marco. A arte feita na periferia é esquecida, e é legal ser lembrado e poder dialogar com um outro publico, podendo mostrar a nossa realidade.
Pra você qual o significado do grafite enquanto arte?
VAL – Eu acho que o grafite simboliza a juventude urbana. A estética da juventude urbana é o grafite, ele é como a flor do concreto. Traz discussões, reflexões sobre vida, é uma forma de intervir, é um manifesto. Consigo também pensar no grafite como uma flor em um jardim, onde tudo é verde, e surge a flor, um ponto colorido que destoa do resto.
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