Sete mil pessoas estão reunidas em Brasília para o Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas. Uma delegação de setenta indígenas participa do encontro, que começou nesta segunda-feira, 20, e segue até quarta-feira, 22.
Organizado pelos movimentos sociais que compõem a Via Campesina, e pela Confederação dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e Federação de Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf), o evento discutirá uma agenda unitária das organizações em torno da luta pelo direito à terra.
O encontro tem como referencial histórico o I Congresso Nacional de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas, realizado em Belo Horizonte, em 1961, durante o governo de João Goulart.
“Nós não aceitamos o modelo de desenvolvimento colocado por esse governo. Um modelo de desenvolvimento que ceifa vidas, que coloca lideranças que lutam por terra na prisão, que assassina o nosso povo. Isso nunca poderá ser chamado de desenvolvimento”. Foi com estas palavras que o indígena Lindomar Terena, liderança da Articulação dos Povos Indígenas do Pantanal e Região (Arpipan), entrou na discussão sobre análise de conjuntura na tarde de segunda, na abertura do encontro.
Dividindo o painel de debate com dirigentes das principais organizações brasileiras de camponeses e trabalhadores rurais, Lindomar foi taxativo: “O [ex-presidente] Lula disse que os povos indígenas são o grande empecilho para o desenvolvimento desse país. Pra gente ficou claro que o governo optou por ficar ao lado do agronegócio e não da classe trabalhadora. Por isso, vamos à guerra contra o agronegócio”.
Ir à guerra é uma tréplica à declaração de guerra do fazendeiro Lenço Preto – uma réplica à declaração de lideranças Guarani Kaiowá, que declararam “guerra contra a morosidade jurídica”. E a liderança indígena Guarani Kaiowá Otoniel Ricardo Guarani concorda: “estão construindo progresso de assassinar povo indígena do Brasil”.
Em coletiva à imprensa brasileira e estrangeira, Otoniel denunciou os ataques de latifundiários que seu povo vem sofrendo sistematicamente no Mato Grosso do Sul.
“Nós lutamos pelo território e pelo meio ambiente. Não adianta vir aqui bonitinho defender progresso de agronegócio – enquanto isso, a nossa terra, onde está? Antes de ontem um fazendeiro falou que estão se armando contra os indígenas Guarani Kaiowá que estão retomando terra, e que vai comprar arma e contratar mais pistoleiro. Cadê o nosso direito? Cadê a (Convenção)169? O Brasil conhece bem. E conhece a Constituição Federal”, cobra Otoniel.
Para o cacique Babau Tupinambá, da Bahia, a Constituição está sob ataque. “Nós lutamos por terra coletiva. Por isso queremos território. Hoje o governo desrespeita, acha que a terra é dele. A terra é protegida por ele, mas não é dele. Os povos indígenas vivem na terra, são donos da terra. A Constituição garante isso. E por isso eles tentam mexer na Constituição, tentam alterar o direito dos povos indígenas de ter suas terras”, diz Babau referindo-se à Portaria 303, que permite proibir e revisar demarcações, além de autorizar a implantação de unidades militares, malhas viárias e empreendimentos hidrelétricos e minerais em terras indígenas.
“Somos um milhão de pessoas que conseguimos viver sem propriedade, sem desmatamento e sem poluição. É contra isso que eles lutam, porque querem usar a terra para o agronegócio. Se o agronegócio está aí, é porque o governo permite. O agronegócio não faz as coisas sozinho”, conclui.
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