IHU – “Dia dos pais. Valmir e os demais filhos do cacique Nisio (do tekohá Guayviri) lembram do pai com carinho e indignados por não saberem até o momento onde o corpo foi escondido. O mesmo acontece com os filhos de Rolindo (do tekohá Ypoí)”, escreve Egon Heck, CIMI-MS, ao enviar o artigo que publicamos a seguir. Eis o artigo.
Após um dia exaustivo e pouco gratificante, em que os ouvidos da burocracia pareciam moucos e os olhos do poder executivo estavam obcecados pela poeira da aceleração do progresso a qualquer preço, a delegação de indígenas das várias regiões no país chegou ao Centro de Formação Vicente Cañas, com razões para o sorriso secular. Para além do decreto de extermínio, existiam razões para comemorar. A midia havia publicado tornando oficialmente reconhecidos 305 povos indígenas com a população de quase um milhão de pessoas falando 270 línguas. Ou seja os pífios e estáticos dados manipulados pelas colonialistas estatísticas oficiais, repetidas desde os meados do século XX, finalmente estavam sendo atualizados. E para a surpresa de muitos o número de povos e línguas indígenas aumentaram em mais de 25%. Ou seja, dos 220 povos falando 180 línguas, passou a ser reconhecida a existência de 305 povos e 270 línguas indígenas.
“Povos Indígenas: aqueles que devem viver”
Nesse mesmo dia, estava reunida a comissão encarregada pelo Cimi de delinear um manifesto da entidade, por ocasião do Congresso de comemoração dos seus 40 anos. Seria também a oportunidade de dar visibilidade ao documento “Y Juca Pirama: o índio aquele que deve morrer”, lançado no final de 1973, como documento de urgência, denunciando o processo genocida e de extermínio em curso pelo então projeto da ditadura militar-civil.
Ficou definido que seria elaborado coletivamente e publicado um “manifesto contra o decreto de extermínio”, denunciando o processo nestas quatro décadas. O Y Juca Pirama: O índio aquele que deve morrer não apenas ultrapassou os decretos de morte e extermínio, mas os povos indígenas são aqueles que devem viver. Eles estão não apenas vivos e entre nós, mas são hoje protagonistas e atores políticos presentes nos processos sociais de construção de uma nova sociedade. Nunca mais decisões colonialistas sobre os povos indígenas, nunca mais um Brasil sem contar positivamente com a contribuição desses mais de 300 povos com sua sabedoria, valores, sua organização social e suas legislações e direitos.
Borracha neles
Enquanto isso no Mato Grosso do Sul, mais um bombástico anúncio de investimentos e progresso no Estado. O jornal Valor Econômico anuncia o investimento de mais de um bilhão de reais. A Cautex Florestal pretende instalar uma usina de beneficiamento de borracha e o plantio de milhões de seringueiras (hevea), inicialmente no município de Cassilância no Mato Grosso do Sul. As obras serão ainda iniciadas este ano. Inicialmente se prevê o plantio de 40 mil hectares. Porém, como o hectare plantado com seringueira é quatro vezes mais rentável do que o hectare plantado com cana, a previsão é de se chegar ao plantio de um milhão de hectares. Diante de mais esses fabulosos investimentos, surgem uma série de perguntas. Será que a expansão de mais essa atividade anunciada como altamente rentável, se restringirá à região onde irá iniciar a ocupação? Porque não se concluem urgentemente a demarcação das terras indígenas antes de se anunciar investimentos bilionários?
Os Kaiowá Guarani da Terra Indígena Arroio Korá, no dia internacional dos povos indígenas, 9 de agosto, cansados de esperar pela decisão judicial, retornaram a uma parte de seu tekohá (terra tradicional). Porém, os fazendeiros e pistoleiros atacaram o acampamento sendo que o indígena Eduardo Pires “não conseguiu fugir e está desaparecido…”
“Está comprovado que a terra é nossa, não pode ser assim de continuar matando os Guarani, mas se é para morrer por nosso tekoha, vamos morrer tudo agora”, disse o indígena.
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