
Há momentos em que a gente pensa que leu mal, que a informação é falsa ou, quem sabe, que estão nos contando uma piada para ver a nossa reação. Ultimamente parece que isso vem se repetindo neste País. Com ou sem fotos. E de repente a gente se pergunta quem é quem, afinal, neste “Brasil verde”, no qual “desenvolvimento e progresso” deveria talvez ser o lema da bandeira. Povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais? Decididamente, não há lugar para eles. Nem no atual cenário que corrompe o território, nem na releitura de Marx e das novas relações “entre capital e trabalho”.
“Chegamos a um novo paradigma de negociação sobre passivos, diálogo que surgiu a partir de relações conflituosas e se repetirá junto às demais empresas do setor”, diz um dos diretores e líderes do MST, exatamente no sul da Bahia. Talvez esse novo e pragmático paradigma envolva também um parceria para resolver outras relações conflituosas, como a existência dos “atrasados” Pataxó querendo direito a um território que será muito mais útil transformado em “floresta” de eucalipto!
Não sei bem o significado que Sergio Adeodato deu à palavra ao mencionar o “aroma da galinhada”. Mas minha reação ao ler a expressão, olhar a foto e ser atingida pelo alcance da notícia foi totalmente inequívoco. Tania Pacheco.
Por Sergio Adeodato | Para o Valor, do Prado (BA) – [os destaques são deste Blog]
Foi um acontecimento histórico. O aroma da galinhada exalava na recepção aos convidados no Assentamento Jaci Rocha, município do Prado (BA), quando chegaram as lideranças dos dois lados em questão: o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e a Fibria, produtora de celulose e papel que detém quase 170 mil hectares no Extremo-Sul da Bahia.
Não faz muito tempo, encontros do gênero só aconteciam nos corredores dos tribunais para a solução litigiosa de conflitos. Desta vez, o motivo era de festa: a inauguração de uma escola agroflorestal para jovens de assentamentos da região e outras partes do Brasil, destinada a fomentar práticas sustentáveis e uma nova cultura no campo.
Em negociação inédita, a Fibria – proprietária da fazenda ocupada há 12 anos pelos sem-terra – abriu mão de novas ações de reintegração de posse e terá a área desapropriada para investir no projeto agroecológico durante cinco anos, encerrando o conflito e beneficiando 1,2 mil famílias. “Muda-se a relação entre capital e trabalho“, analisa Paulo Kageyama, pesquisador da Esalq, da Universidade de São Paulo. Kageyama orienta os assentados na produção de alimentos em sistemas agroflorestais, sem uso de agrotóxico e com a conservação da Mata Atlântica – ambiente que fornece água e condições de clima essenciais à sustentabilidade futura do próprio eucalipto do entorno. (mais…)