Denúncia: “Racismo, Preconceito e Alienação na BARRED’s”


Arthur Venuto Lopes Viana*

Síndrome – do grego Syndromé (reunião) – termo utilizado para designar um conjunto de sinais e sintomas que caracterizam determinada condição médica.

No último domingo – 12/02/2012 – em um passeio pelo shopping de minha cidade (Sete Lagoas), eu e minha irmã nos deparamos com a vitrine de uma conhecida loja de roupas femininas (BARREd’s) que tinha, em meio a vários outros manequins de pé, um manequim sentado em uma cadeira de rodas.

Nossa reação inicial foi de grata surpresa, afinal, ver um manequim sentado em uma cadeira de rodas, na vitrine de uma das lojas de roupas femininas mais conhecidas do país – e não apenas na vitrine de uma loja de produtos hospitalares – poderia indicar uma mudança atitudinal extremamente necessária em relação às pessoas com deficiência. Uma mudança simples e até pequena diante daquela que realmente necessita ser feita, mas que, no entanto, poderia sugerir – ao menos – que a loja estava adaptada e acessível à cadeirantes e/ou que aquele grupo empresarial, imbuído de visão estratégica e mercadológica, observou aquele setor populacional como público alvo de um nicho de mercado pouco explorado e com possibilidades de crescimento. Atitude regida pela lógica de mercado pura e simples, compreensível diante da irracionalidade que rege o sistema capitalista, porém, duvidosa diante do olhar que recai sobre os seres humanos.

Sendo assim, a presença de um manequim numa cadeira de rodas na vitrine da Barred’s já era, naquele momento, encarada por nós sob uma dupla perspectiva que designava tanto a consideração de um nicho mercadológico que deveria ser explorado pelo grupo, quanto pelo valor de sua simples presença na vitrine de uma grande loja em um Shopping Center – que atrai olhares da pequena burguesia ávida por consumir produtos “politicamente corretos”, ato este que – na lógica capitalista – poderia provocar alguma mudança atitudinal em relação às pessoas com deficiência.

Porém, a campanha da Barred’s, que já possuía um duplo significado para nós, tornou-se ainda mais estranha quando nos aproximamos para ler o que dizia um quadro locado aos pés do manequim da cadeira de rodas. Nele havia os seguintes dizeres: “Os portadores destas síndromes não precisam ser discriminados. Eles precisam de compreensão, amor, carinho e aconchego! Seja Solidário. Barred’s”, e emoldurando o quadro havia bandeiras de alguns movimentos sociais, placas indicativas de ambiente adaptado para cadeirantes, idosos, e outros movimentos de apoio e inclusão à pessoas com deficiência, são eles: Movimento LGBT; Movimento Contra o Racismo; Placas Indicativas de Ambiente Adaptados para Deficientes Visuais, Cadeirantes e Idosos; Obesos, Movimento da Luta Contra o AIDS e Movimento de Apoio à Pessoas com Síndrome de Down.

Ao nos depararmos com tal quadro, uma onda de revolta e indignação tomou conta do ambiente que nos circundava – uma vez que estávamos diante de um exemplo de incompreensão de todo o movimento cotidiano que procuramos realizar em prol de uma sociedade mais justa para todos. O quadro da Barred’s demonstra uma visão de mundo pautada essencialmente na patologização do viver que considera negros, homossexuais, obesos, cadeirantes, soropositivos, pessoas com síndrome de down, deficientes visuais e idosos como doentes que necessitam da solidariedade e da compaixão da sociedade na qual estão inseridos – visão extremamente restrita e que vitimiza uma grande parcela populacional, além de desconhecer e desconsiderar as profundas diferenças que marcam estas condições de existência do ser humano.

A cena que estava diante de nós, que antes era compreensível sob a ótica da irracionalidade capitalista, tornou-se então incompreensível até mesmo diante dela e deflagrou uma visão preconceituosa, deturpada da realidade e que busca a vitória e a sobrevivência no mercado a qualquer custo. O que poderia ser o exemplo de uma mudança de atitude da Barred’s, diante das profundas diferenças que marcam a multiplicidade do ser humano, perdeu suas vestes de ‘inclusão social’ e surgiu claramente diante de nós como ideologia que busca justificativa e supressão das diferenças, além de se mostrar como mais um exemplo de exploração do homem pelo homem e irrestrita alienação deste grupo empresarial em relação à vida vivida.

Sendo assim, Grupo Barred’s, em nome inúmeras pessoas ofendidas pela campanha publicitária (infame) presente na vitrine de sua franquia localizada no Shopping Sete Lagoas, em Fevereiro de 2012, eu gostaria de dispensar sua solidariedade, compreensão, carinho e aconchego uma vez que tais sentimentos são elementos ideológicos que procuram camuflar as vestes de sua sede irrefreável pelo acúmulo de capital à custa do sofrimento humano. Além disso, e principalmente por isso, porque não considero que nós – negros, homossexuais, obesos, cadeirantes, soropositivos, pessoas com síndrome de down, deficientes visuais e idosos – estejamos condicionados a uma condição médica e ocupamos o lugar de vítimas da sociedade. Sugiro que a campanha publicitária seja retirada daquela loja e de todas as outras que possam ter cometido o mesmo erro, uma vez que se trata de um anúncio ofensivo, ignorante e desrespeitoso em relação a TODAS as pessoas que tem o desprazer de ler aqueles dizeres e até mesmo das que nunca chegarão a passar diante de uma de suas franquias.

Eu, Arthur Venuto Lopes Viana, acredito na diversidade dos modos de existência do ser humano e creio na capacidade que temos de subverter qualquer consideração de inferioridade que possa recair sobre nós, fazendo disso o mote de uma luta por uma sociedade mais justa que, antes de dizimar as diferenças, possa considerá-las o bojo no qual nos forjamos cotidianamente e nos tornamos aquilo que realmente somos: SERES HUMANOS.

Sete Lagoas – Minas Gerais, 13 de Fevereiro 2012

*Arthur Venuto Lopes Viana – [email protected] – é estudante e acredita – incondicionalmente – na capacidade revolucionária dos seres humanos.

**A loja Barred’s está localizada no Shopping Sete Lagoas – Rua Otávio Campelo Ribeiro, 2801. Loja: 223a, 223b. Tel.: (31) 3371-2417- Sete Lagoas, Minas Gerais, BR. Site: www.barreds.com.br.

Shopping Sete Lagoas – Rua Otávio Campelo Ribeiro, 2801. Bairro Eldorado – Sete Lagoas, Minas Gerais, BR. CEP: 35702-153. Site: www.shoppingsetelagoas.com.br

Enviada por José Carlos.

Comments (6)

  1. Mais um exemplo, lendo este texto, de que o preconceito está nos olhos de quem vê!
    É só separa para ver como quem escreveu deve ser um pseudo jornalista que deveria trabalhar é no Datena. Não é senhor José Carlos. “Sendo assim, a presença de um manequim numa cadeira de rodas na vitrine da Barred’s já era, naquele momento, encarada por nós sob uma dupla perspectiva”.
    Nem sabia o que estava escrito e só por que viu um manequim de cadeira de rodas já fez toda uma análise, grosseira.
    Se aparece um cadeirante é marketing? Ou como eles na minha visão quiseram mostrar é que todas as diferenças devem ser respeitadas e embraçadas pela sociedade como um todo? Podem ter errado com a palavra síndromes, mas como sou uma pessoa de bem e OTIMISTA, entendo que o que quiseram dizer era diferenças.
    Em vez de criticar tão fortemente assim, por que não foi lá numa boa e sugeriu que trocassem alguma palavra.
    Sobra gente falando mal e poucos com atitude para fazer a diferença mesmo.
    Péssimo você José Carlos. Péssimo!

  2. que orror,na loja do shopping no valparaiso de goias a propria gerente atende mal os cadeirantes que chega na loja .isso é um absurdo .

  3. Fico impressionada com a indiferença de algumas pessoas… Não tenho nada contra a loja, pelo contrário, sou cliente, mas também acho que pisaram na bola, principalmente ao se referirem aos negros, idosos, cadeirantes, etc, como portadores de alguma síndrome. Talvez eu concorde por ser negra e sofrer o preconceito na pele, já quem não sofre não admite nem quando é tão óbvio! Parabéns pela reflexão trazida!

  4. Desculpe, mas não é preciso colocar um manequim na vitrine indicando que pessoas desta “síndrome” como mencionam, precisam de amor, carinho e respeito. É lógico que precisam, como qualquer pessoa, independente de sua condição física.
    Se esperamos que estas pessoas tenham uma vida normal e o mais próxima possível de nós, não temos que identificá-las como “diferentes”. Inclusão? Pra quê?

  5. Que absurdo que eu li agora! A loja nao cometeu ato algum contra ninguem trata-se de uma campanha na qual deve ser respeitada e aplaudida. Para falar de preconceito as pessoas devem conhecer e sentir para nao falar besteira. Obrigado Barreds por fazer parte do nosso mundo!

  6. Nossa, nunca tá bom né?! Aff… não vejo nenhum preconceito nisso, são “vocês” que tem preconceito.
    As pessoas com essas características citadas pela loja são sim mais frágeis por acharem que são diferentes do resto da sociedade, aí quando alguém tem uma atitude que visa mudar isso, vem um reclamar. Para de ser preconceituoso colega!!

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