A “História” se repete…

É dito por aí que a História se repete, que os mesmos tipos de ações, feitas pelas mesmas pessoas ou classes sociais, se repetem em formas de ciclos, mesmo em contextos “diferentes”, mas com essência idêntica, só mudando a “maquiagem”.

Antes de tudo é válido salientar que os conceitos e ações de justiça e equidade mudam de acordo com o interesse dos poderosos e mais favorecidos, porém ainda que conceitualmente justiça, equidade e cidadania sejam direitos de todos atualmente no Brasil, na prática isto ainda está longe de se concretizar.

Quando se quer ou se pretende realizar atos de injustiça, em vantagem própria ou de sua classe socioeconômica, usa-se dos mais variados argumentos, desde a vontade de Deus até a segurança nacional. É assim no Brasil desde a colônia, quando aqui os portugueses chegaram, buscando avidamente matéria-prima e metais preciosos para dar continuidade à sua política mercantilista. Ao longo de todo processo de colonização, várias “armas” foram usadas, desde as armas de fogo até armas ideológico-psicológicas fundamentadas pela religião, pelos órgãos de justiça dentre outros aparatos do Estado português em questão.

A Mata Atlântica foi quase toda devastada, os nativos foram praticamente exterminados ou forçados a abandonar suas terras, sua identidade como povo, seus costumes. O que ocorreu de forma semelhante com os negros escravizados trazidos forçadamente do continente africano. Desta forma, os invasores se estabeleceram, com sua cultura, sua política, suas leis – beneficiando a si mesmos, seus parceiros de classe, em detrimento dos “conquistados” ou violentados.

No contexto brasileiro atual, vive-se as consequências dos atos injustos, perversos e cruéis do passado, porém sobretudo percebe-se claramente uma tentativa “poderosa”, por todos os meios e instituições, principalmente do Estado, no sentido de manter a mesma estrutura estabelecida e perpetuada desde o nascimento deste país, o que acarreta na repetição das mesmas atitudes empreendidas pelos usurpadores do passado, a saber, expropriação, criminalização, opressão, violência física, extermínio deliberado de vidas, exploração abusiva do trabalho alheio, destruição da natureza e concentração de renda e riqueza.

Em nome da ordem, da soberania e segurança nacionais, não esquecendo, do progresso e desenvolvimento econômico, a “História” está se repetindo, mesmo que com novas “maquiagens”. E não está muito longe, está perto, ao lado, em frente, basta abrir bem os olhos e poderás perceber que está acontecendo com você agora mesmo.

Como exemplo mais próximo, vale destacar o caso da comunidade remanescente de quilombo, localizada em Aratu, Simões Filho (região metropolitana de Salvador), chamada de Quilombo Rio dos Macacos, comunidade registrada no instituto Palmares e que está estabelecida no local a cerca de duzentos anos, comportando em seu interior jovens, crianças, idosos (alguns centenários) e adultos, enfim, mulheres e homens descendentes diretos de negros escravizados.

O Quilombo Rio dos Macacos tem sofrido várias agressões por parte da Marinha do Brasil, que se estabeleceu na região de Aratu por volta de 1960, quando o espaço já estava povoado e a ocupação estabelecida em forma comunitária.

A Marinha, que nunca teve uma boa convivência com os primeiros moradores, tem avançado sobre o território pertencente à comunidade, ameaçando, torturando, desrespeitando e ferindo direitos como o de ir e vir, o de trabalhar, estudar, de se organizar em comunidade dentre outros. Tudo isto com apoio do Poder Judiciário baiano, através da figura do juiz Evandro Reimão, que alegando destruição da natureza e defesa do território nacional denominou os moradores do local de invasores e aprovou a tutela antecipada da área pela Marinha do Brasil, sob pena de retirada compulsória, isto até o dia 4 de Novembro de 2011.

Mesmo com apoio de organizações não governamentais, de instituições ligadas aos movimentos de luta popular, os moradores do Quilombo do Rio dos Macacos encontram-se em estado de medo, desespero e apreensão.

Bem, diante de tal fato, fica a reflexão: Quem será o próximo a ser abatido pela polícia, a ser espancado pelas forças armadas, injustiçado pelo poder que deveria promover a justiça, a ser expulso de sua casa, desintegrado do seu território, destruindo em sua cultura e identidade? Algo precisa ser feito, pois o próximo poderá ser você!

Fonte: Ascom APP.

http://www.politicaspublicasbahia.org.br/spip.php?article785

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