Ana Cristina Cavalcante: O vinho virou água, na terra do chá…

Sob o pretexto da discussão republicana, o que grande parte dos representantes do povo dos Estados Unidos  vem fazendo é sabotagem mesmo. Ou em outra palavra mais precisa: racismo

Duas ciências direcionam nossas vidas cotidianamente. Economia e Política existem para isso mesmo… Traçar rumos e estratégias, caminhos que nos conduzam ao sonhado bem-estar social, à vida em harmonia, à convivência o mais justa possível entre os estratos e a tudo o mais que orbita em torno desses conceitos. E quase sempre cumprem esse papel. Mas, quando alguns desavisados resolvem fazer besteira em seu nome, o estrago é diretamente proporcional ao bem que podem fazer à sociedade. Menos de três anos após a última trapalhada – a crise dos subprimes, gerada por uma desregulamentação irresponsável no mercado financeiro dos Estados Unidos – eis que, também da Terra do Tio Sam, vem mais uma grande bobagem.

A crise política que envolveu a difícil aprovação do aumento do teto da dívida norte-americana pode, inclusive, ser considerada a maior de todas as irresponsabilidades de que se tem notícia, no Ocidente, do século 20 até aqui. E o que parece exagero à primeira vista é melhor compreendido quando se percebe o emaranhado de hostilidades em que se transformou a política no governo de Barack Obama.

Sob o pretexto da discussão republicana, o que grande parte dos representantes do povo daquele país vem fazendo é sabotagem mesmo. Ou em outra palavra mais precisa: racismo. Simples assim. A ideia de que o primeiro presidente negro da América seja bem-sucedido não passa pela cabeça de muita gente com poder de decisão por lá. Gente também conhecida por pertencer à “irmandade” Tea Party.

É preciso conhecer a Main Street

Claro que Obama facilita as coisas para sua ferrenha oposição quando mantém ao seu lado uma equipe de acadêmicos pouco habituados com a economia real da Main Street, onde as pessoas comuns vivem o dia a dia. Seus assessores parecem não reconhecer nada além de Harvard ou de Wall Street. Pode até faltar pulso ao presidente dos Estados Unidos, também. Mais feeling ao lidar e convencer a opinião pública descomprometida e até certo ponto alienada de seu país.

Mas não é justo atribuir a ele (ou à alegada pouca habilidade política) o imbróglio da dívida, resolvido apenas aos 31 minutos da prorrogação de uma partida que não poderia ser definida nos pênaltis. O mundo parou – e gelou! No fim, sem surpresa, quase tudo “deu certo”. O limite da dívida foi alterado, o governo vai fazer cortes sem aumentar impostos… No entanto, o problema não desapareceu no ar e a consequência mais imediata disso foi o rebaixamento da classificação de risco dos Estados Unidos.

Simplismo

A verdade, querido leitor-internauta, é que a questão central nunca foi a possibilidade de default (incapacidade financeira de honrar compromissos) tampouco o rebaixamento do grau de confiança que se pode ter na economia norte-americana, determinado por agências de rating com pouca ou nenhuma credibilidade. O entrave é político. E não se trata da maioria republicana no Congresso ou do boicote permanente ao governo de Barack Obama. Essa seria uma visão simplificada demais.

O X da equação é o uso mal intencionado da Economia como desculpa esfarrapada para prejudicar um governo não aceito pela tal América Profunda, representada pelos conservadores e reacionários. O beco sem saída econômico da nação mais rica do planeta contribui para agravar a situação. Conjuntura, diga-se a bem da verdade, construída pelo governo republicano anterior ao atual.

Obama precisa ter energia para colocar nas ruas uma estratégia econômica capaz de fazer os Estados Unidos voltarem a crescer e, assim, gerar emprego, renda para as famílias consumirem e favorecer um clima de felicidade e auto-estima – sentimento capaz de reverter qualquer expectativa de recessão. Isso requer força política. O que, por enquanto, parece não ser uma verdade absoluta. E, se o cenário não permite grande otimismo, o vinho continua virando água na terra do chá.

Ana Cristina Cavalcante é jornalista, com diploma, que adora Economia, Filosofia, rock inglês e futebol.

http://www.vermelho.org.br/ce/noticia.php?id_noticia=161062&id_secao=61

 

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