O alarme da intolerância dispara mais uma vez na Europa

João Bosco Monte

O ressurgimento do racismo, a xenofobia, o anti-semitismo e a intolerância na Europa mostram importantes contradições políticas, econômicas e sociais que estão sucedendo no velho continente.

A crise econômica internacional, a pressão e os movimentos demográficos, as modificações radicais nos países do Leste, o complicado e lento processo de unidade Européia, o temor e insegurança pelo futuro ante o desemprego e a pobreza são, entre outros, alguns elementos que propiciam o renascimento desta marca social em diversos países europeus.

Recordo que o Observatório Europeu alertou em 1999 sobre o aumento do racismo e a xenofobia informando que se havia se tornado algo comum na vida quotidiana ao mesmo tempo em que destacava o crescimento de crimes racistas. Particularmente grave é a vinculação dos estrangeiros africanos ao discurso dos riscos para a saúde, sobretudo com a acusação da propagação da AISD e sua responsabilização pela delinqüência e o tráfico de drogas.


Agora surge outro estudo feito pela Friedrich Ebert Foundation,onde os pesquisadores entrevistaram cidadãos de oito países (Grã Bretanha, Holanda, França,Hungria, Itália, Alemanha e Portugal) e mais uma vez,apontam a Europa como um continente que apresenta ressentimentos racistas e xenófobos.

A pesquisa aponta que 50% dos alemães e 60% dos holandeses, portugueses e poloneses acreditam que “o islã é uma religião de intolerância.” Enquanto que uma média de setenta por cento dos europeus considera a imigração um “enriquecimento” de suas culturas, em certa medida.

A investigação afirma também que cerca da metade de todos os entrevistados europeus disseram que existem muitos imigrantes nos seus países e que os postos de trabalho devem ser dados, primeiramente aos nacionais.

Como um continente de muitos países diferentes, com também diferenças étnicas e religiosas, além de variadas línguas e culturas,a Europa é, por natureza muito diversa. Por isso, o futuro da Europa depende não só a aceitação da diversidade, mas também sobre a qualidade da integração de grupos heterogéneos, onde os marginalizados e subordinados estão cada vez mais exigentes com relação à igualdade de tratamento, bem como seu envolvimento das discussões de temas importantes.

Vários milhões de imigrantes, a maioria deles com outra cor-raça-religião-língua-cultura, chegaram ao continente e muitos são inclusive cidadãos europeus. Este fenômeno está sendo percebido como uma ameaça para seu bem-estar e para a unidade cultural européia que reage com surpresa, pânico e hostilidade e um tempero de xenofobia.

Além disso, muitas vezes sob um dissimulado discurso ou de forma explícita,líderes como Le Pen na França se percebe que se está gerando um perigoso nacionalismo europeu, cujo lema parece ser como muitos afirmam ser a Europa para os europeus.

A guerra do véu em França, a profanação de tumbas judias, o ataque aos emigrantes e refugiados na Alemanha por grupos neonazistas, sinalizam que, usando as palavars de Günter Grass: “o muro caiu, mas continua existindo um muro interior no coração de cada ser humano”.

É importante também evidenciarmos que a Europa é o continente que nos trouxe a inquisição, o nacionalismo, a escravidão, o imperialismo moderno, o racismo científico, o anti-semitismo, várias ideologias fascistas e xenófobas, e também o nacional-socialismo com tudo que envolveu.

No último mês de julho, o mundo se chocou quando o norueguês Anders Behring Breivik matou 92 pessoas em Oslo, alegando que o que havia feito “era apenas mais um passo de sua odisséia, iniciada em 2002 em Londres e que formava a Ordem Militar e Tribunal Penal Europeu dos Cavaleiros Templários ”, em alusão à conhecida ordem religiosa da época das cruzadas.

Mesmo depois de mais de 200 anos do Iluminismo, a barbárie ainda nos cerca e os velhos demônios continuam vivos.

http://www.opovo.com.br/app/colunas/mapamundi/2011/08/03/noticiamapamundi,2274691/o-alarme-da-intolerancia-dispara-mais-uma-vez-na-europa.shtml

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