Roberto Malvezzi (Gogó)
Quando um grupo de mulheres atravessou a plenária com vasos de água e flores, postou-se diante da mesa da plenária do Comitê de Bacia do São Francisco, diante dos olhos interrogantes da mesa e do ministro Fernando Coelho, toda a platéia acompanhava a bela cena com olhos atentos.
Quando jogaram os vasos no chão, derramando lama sobre os tapetes do auditório do SENAI em Petrolina, nessa manhã do dia sete de Julho, a mesa ficou perplexa.
Então, tomando o microfone, a representante das comunidades do rio Salitre, um afluente do São Francisco em agonia, em outras palavras disse: “estamos aqui, nesses dez anos de Comitê da Bacia, para dizer que estamos passando sede e estamos com falta de energia. Por várias vezes tivemos que derrubar os postes para cancelar o acesso das bombas à água. Agora derrubamos mais cinco. Acabaram com nosso rio, fizeram o projeto de irrigação, mas não temos acesso à água. Sem energia não temos eletrodomésticos, nossas escolas não funcionam, as vacinas do posto de saúde se estragaram, nossas casas estão às escuras. Essa é a realidade triste do Salitre, um rio acabado. Queremos água, queremos que nossos direitos sejam respeitados”.
O grupo voltou a sair em ordem, sob o olhar patético da mesa. Houve um longo silêncio, o clima de triunfalismo dos dez anos não tinha mais concerto. Depois de uns dez minutos em silêncio, então a cerimônia foi retomada.
O discurso do presidente do Comitê foi honesto. Há um futuro pela frente, com metas de pôr água para todos em dez anos, de sanear todo o rio em vinte anos. Falou na revitalização hidroambiental do rio, para isso é necessário um bilhão de reais por ano, por vinte anos.
O antigo presidente do Comitê, José Carvalho, retomou o protesto dos salitreiros, disse que sabe haver muitos desafios, mas que é preciso avançar. Disse que obras como a Transposição, a história julgará.
O Comitê não é o que diz de si mesmo, mas tem contribuído nesse debate do rio, dos rios, posicionou-se contra a Transposição e, publicamente, posicionou-se contra a energia nuclear no São Francisco.
A história nos julgará, embora contada pelos vencedores, sempre haverá um grupo de mulheres ou os cocares dos Truká para dizer que a história verdadeira tem rostos que história oficial teima em não enxergar.
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Enviada por Ruben Siqueira.