“A história de um valente” – [“Memórias” de Gregório Bezerra é relançado após 32 anos]

Quando aos sete anos ficou órfão de pai e mãe, transformou-se em trabalhador rural assalariado. Condição que só foi interrompida quando, aos dez anos, foi trazido por uma família latifundiária para o Recife com a promessa de criá-lo e alfabetizá-lo, promessa que não foi cumprida. Ao invés da escola prometida, o pequeno “Grilo”, como era chamado na infância, tornou-se um escravo mirim: acordava às 4h da manhã, varria, lavava banheiros, encerava pisos e cuidava de animais. Não aceitou este estado de coisas e fugiu. O artigo é de Luciano Morais e Roberto Numeriano.

A reedição do livro Memórias, autobiografia de Gregório Bezerra, pela Boitempo Editorial (648 págs., R$ 74,00), comemora um símbolo de resistência e convicção política e ideológica, valores cada vez mais ausentes no meio político brasileiro. No livro, o revolucionário comunista narra toda sua trajetória de vida e militância, momentos vividos durante os principais acontecimentos da vida política e social do Brasil no século XX.

Gregório começa a autobiografia Memórias narrando a seca e a escassez de alimentos que maltratava constantemente os nordestinos, e que o atingiu duramente em sua infância no município de Panelas, “Fui, assim, uma criança gerada com fome no ventre materno. Sim, porque minha mãe passava fome, e eu só podia nutrir-me de suas entranhas enfraquecidas pela fome”. (mais…)

Ler Mais

Racismo sem racistas, por Ana Maria Gonçalves

“Hoje em dia, com exceção de membros de organizações brancas supremacistas, poucos brancos nos Estados Unidos se proclamam “racistas”. A maioria dos brancos afirma que “não vê cor alguma, apenas pessoas”; que embora a face feia do racismo ainda esteja entre nós, não é mais fator central determinando as oportunidades de vida das minorias; e, finalmente, que, como Dr. Martin Luther King Jr, eles sonham em viver em uma sociedade na qual as pessoas sejam julgadas pelo caráter, não pela cor da pele. Mais incisivamente, a maioria dos brancos insiste que as minorias (especialmente os negros) são os responsáveis por “playing the race card” (expressão usada para apontar uso vitimizador e mal intencionado da diferença racial), por exigirem a manutenção de programas desnecessários e divisivos baseados em raças, como ações afirmativas, e por bradar “racismo” sempre que são criticados por brancos. A maioria dos brancos acredita que se os negros e outras minorias simplesmente parassem de pensar no passado, trabalhassem duro e reclamassem menos (particularmente de discriminação racial), então americanos de todas as cores poderiam viver em paz.”

O texto acima é o parágrafo inicial do livro Racism without racists, de Eduardo Bonilla-Silva, sobre o que nos EUA está sendo chamado de “color-blind racism”, ou apenas “color blindness” (algo como o racismo que não leva em conta a cor/raça). Este é apenas um dos muitos estudos publicados sobre esse novo tipo de racismo (para os norte-americanos) que, segundo Bonilla-Silva, é muito parecido com o racismo existente nos países caribenhos e latino-americanos, Brasil incluido. Esse tipo de racismo permite manter os privilégios dos brancos sem alarde, sem nomear aqueles a quem ele submete e aqueles a quem beneficia. Ele deu cobertura para que o ex-presidente Bush (filho), por exemplo, expressando a opinião de muitos norte-americanos, dissesse “Eu apoio enfaticamente todo tipo de diversidade, inclusive a diversidade racial no ensino superior”, ao mesmo tempo em que chamava o programa de ação afirmativa da Universidade de Michingan de “falho”, “inconstitucional” e “discriminatório” contra os brancos. (mais…)

Ler Mais

PR – Familiares esperam “que se faça justiça”

Nesta quarta-feira (27), às 13h, terá início o júri do assassinato de Eduardo Anghinoni, morto em 1999 em Querência do Norte. Para o julgamento, foram convidadas autoridades e militantes do movimento, e já está confirmada a presença de familiares de Anghinoni. Entre os parentes, irá comparecer ao julgamento o irmão Celso Anghinoni, liderança do MST que por muitos anos conviveu com ameaças de morte.

De acordo com Celso, a família sempre foi muito unida, mas depois do assassinato todos ficaram muito abalados. “A morte do meu irmão abalou todos nós, minha esposa entrou em depressão, minha menina, às vezes começa a chorar, ela acha que vai voltar a acontecer, minha esposa teme até hoje”, relata o trabalhador.

Depois de quase 12 anos do ocorrido, ninguém foi julgado. Celso conta que teve que mudar sua rotina e se afastar das tarefas que desenvolvia no assentamento, já que a família não suportaria reviver aquilo que viu, presenciou e sentiu. “Nesse tempo eu tive que mudar, tive um afastamento de todas as atividades do MST até hoje, por conta da família que não suportaria mais ameaças e violência.” (mais…)

Ler Mais

Automóveis: para que servem?

Por Igor Vitorino da Silva (*)

“E cada favelado é um universo em crise
Quem não quer brilhar, quem não? Mostra quem,
Ninguém quer ser coadjuvante de ninguém
Quantos caras bom, no auge se afundaram por fama
E tá tirando dez de havaiana?
E quem não quer chegar de honda preto em banco de couro,
E ter a caminhada escrita em letras de ouro?
A mulher mais linda sensual e atraente,
A pele cor da noite, lisa e reluzente
Andar com quem é mais leal verdadeiro”

Racionais – Dá ponte pra cá

Não possuir carro no Brasil é um grande drama. Os longos tempos de espera nos pontos de ônibus e as viagens apertadas fazem cada brasileiro sonhar em ter seu carro próprio, mesmo que tenha que pagar longas prestações ou ficar parado horas nas longas filas de engarrafamento ou leve mais de meia hora para conseguir uma vaga no estacionamento. O negócio é comprar um carro e se endividar por 60 meses. Para isso se realizam muitas horas-extras de trabalho e sacrifícios no orçamento doméstico, e, até mesmo, compras coletivas entre duas ou três pessoas que o utilizam em sistema de rodízio. Tudo isso para escapar os percalços de uma vida sem carro numa realidade urbana construída e pensada em função do automóvel. (mais…)

Ler Mais

A cor dos brasileiros e a chaga do racismo

José Carlos Ruy

O racismo é uma chaga, como ficou demonstrado por dois acontecimentos dos últimos dias. No mais cruel deles, um extremista de direita norueguês, que não merece ter seu nome mencionado, matou 76 pessoas em Oslo para, como admitiu, iniciar uma guerra racial “em defesa da Europa”. Ele se apresenta como antimuçulmano, odeia negros, árabes e migrantes, e quer a supremacia branca sobre o mundo, portando-se como uma espécie de “cruzado” em pleno século 21!

O outro acontecimento envolve as manifestações racistas postadas na internet contra a nova Miss Itália Nel Mondo 2011, a brasileira Silvia Novais. Ele não é tão sanguinolento mas está na raiz de comportamentos criminosos como este do atirador direitista de Oslo; Seus autores são direitistas europeus partidários da supremacia branca e, como não podia deixar de ser, de Adolf Hitler. E que, como o criminoso de Oslo, não suportam negros, árabes, judeus, imigrantes e outros seres humanos que não partilham suas origens étnicas, seus preconceitos e seus interesses.

Para nós, brasileiros, estes acontecimentos não podem ser encarados como realizações de “desequilibrados mentais”, como usualmente se pensa e difunde. Ao contrário, eles dizem respeito diretamente a nós e à nossa identidade como brasileiros – como demonstra, sobejamente, a agressão contra Sílvia Novais. Somos os habitantes de um país encarado pelos supremacistas eurocêntricos como racialmente inferior que, nas condições atuais do mundo, faz parte do conjunto de nações que ameaça o predomínio do “Ocidente” – isto é, de países como Estados Unidos ou daqueles que formam a União Europeia. (mais…)

Ler Mais

Médicos das Usinas dão pinga para cortar o efeito do agrotóxico no corpo

Por Charles Souto, do Brasil de Fato

Em usina de Pernambuco, trabalhadores que manuseiam agrotóxicos ficam enfermos e transmitem doenças para familiares.

“De repente a menina cansava sem ninguém sabe como. Tinha que pegar e levar pro hospital às pressas”, relembra Madalena. A cena se repetia todos os dias. Sua sobrinha, à época com quatro anos, tinha crises respiratórias a cada fim de tarde e era socorrida no hospital de São Lourenço da Mata, zona da mata norte de Pernambuco. “Foi então que a médica descobriu que os ataques só aconteciam quando meu irmão chegava em casa do trabalho. Ela pediu pra ele se afastar do serviço por algum tempo. Passou um mês e a menina não teve mais nada, quando ele voltou a trabalhar os ataques voltaram”. O irmão de Madalena aplicava agrotóxicos nos canaviais da usina Petribu.

Os ataques de asma que a sobrinha de Madalena sofria eram causados pelos vestígios de agrotóxico que permaneciam no corpo de seu irmão, “muito embora”, ressalta Madalena, “quando largava do trabalho, ele tomava banho na usina e trocava de roupa antes de ir pra casa”.

O relato de Madalena é reforçado por outras esposas e mães da região, cujos nomes verdadeiros foram preservados para evitar retaliações da usina. “O fedor é muito forte”, lembra Regina, cujo esposo de 30 anos aplica veneno nos canaviais da Petribu pela segunda safra consecutiva. “Quando ele chega do serviço, só entra pela porta de trás. A roupa que ele usa pra ir e voltar do trabalho tem que deixar na porta da casa. Boto na água sanitária e nada do cheiro sair. Tem dia que o fedor é tão forte que não consigo nem ficar perto dele”, completa. (mais…)

Ler Mais

Colombia: Piden proteger a líderes afrodescendientes amenazados de muerte

José Santos Caicedo, uno de los líderes amenazados

Servindi, 26 de julio, 2011.- Instituciones sociales pidieron a las autoridades de Colombia proteger de manera urgente y eficaz la vida e integridad física de los líderes afrodescendientes José Santos Caicedo, Armando Caracas Carabali, Aníbal Vega y demás miembros del Proceso de Comunidades Negras (PCN) y líderes del Consejo Comunitario de La Toma.

Ellos recibieron amenazas de muerte mediante llamadas telefónicas de sujetos que actuarían por órdenes de mafias de minería ilegal que operan en el territorio del Consejo Comunitario de La Toma. A pesar de las denuncias públicas sobre esta presencia ilegal ocho retroexcavadoras continúan operando a vista y paciencia de las autoridades.

Las nuevas amenazas se suman a una larga lista de acciones de amedrentamiento ocurridas en los últimos meses, no obstante que el PCN tiene medidas cautelares otorgadas por la Comisión Interamericana de Derechos Humanos (CIDH).

Los esfuerzos del PCN por proteger a sus líderes, organizaciones y comunidades se ha visto frustrado. La Mesa de Garantías con Grupos Étnicos no ha revisado los casos urgentes ni adoptado medidas a pesar del compromiso del gobierno mediante el Viceministro de Gobierno. (mais…)

Ler Mais

Lei paulista é uma paulada no SUS

Por Ligia Bahia* e Mário Scheffer**, na Folha de S. Paulo

É uma bordoada a recente regulamentação da lei paulista que permite a venda para planos de saúde de até 25% da capacidade dos hospitais públicos gerenciados por organizações sociais.

Desde o famigerado Plano de Atendimento à Saúde (PAS), criado por Maluf, uma política de governo não atingia assim, de chofre, o Sistema Único de Saúde (SUS).

Reprise do mesmo drama, abrem-se as torneiras que irrigam empresas privadas com dinheiro público. O PAS ensinou que a gambiarra de governantes, baseada em legislação questionável e financiamento improvisado, não resiste à próxima eleição, mas enriquece alguns à custa do calote no SUS.

Para justificar o ardil, a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo identificou que 18% dos pacientes atendidos em hospitais públicos têm plano privado. Por que até hoje não viabilizou essa cobrança por meio da Agência Nacional de Saúde Suplementar?

A falsa alegação de que a lei federal do ressarcimento não é extensiva às organizações sociais e o suposto efeito Robin Hood (tirar dos planos para melhorar o SUS) escondem interesses cruzados. (mais…)

Ler Mais

O terror dos ressentidos

Estudioso da extrema-direita mostra de que modo a rejeição ao não-europeu e ao Islã alimenta atos extremos como os atentados em Oslo

Entrevista com Nicolas Lebourg*, no blog Droite(s) Extreme(s), do Le Monde. Tradução: Antonio Martins.

A partir dos primeiros elementos da investigação sobre a matança de Oslo, surge a impresssão de que o caso de Anders Behring Breivik destaca o imaginário do “lobo solitário”, difundido e transformado em mito pela extrema direita radical americana. Qual é a origem do “lobo solitário”?

A tática do “lobo solitário” foi inventada pelo norte-americano Joseph Tommasi em 1974, quando ele fundou o grupúsculo Frente de Libertação Nacional-Socialista. Com o “lobo solitário”, Tommasi pretendeu transformar a fraqueza dos neo-nazis em força. Já que não existe apoio algum à extrema-direita radical; já que o governo de Washington é apenas um fantoche atrás do qual se esconde o “Governo Sionista de Ocupação” (ZOG, em inglês); já que qualquer militar de extrema-direita é um possível espião do governo ou um agente sionista, é preciso passar a um terrorismo individual. Não há nenhum risco de fuga ou traição: trabalha-se sozinho, cada um se encarrega solitariamente de promover uma ação terrorista. Tommasi foi, ele mesmo, assassinado em 1975. A metodologia só se difunde a partir dos anos 1980. (mais…)

Ler Mais