A vida dos índios da cidade grande

Tucano e indiozinho na aldeia Tekoa Pyau, na região do Jaraguá Paulo Liebert/AE

Na Favela Real Parque, onde se instalaram nos anos 1950, pancararus conservam tradições espirituais; em aldeia de Parelheiros, crianças guaranis colhem frutas no pé

Bruno Paes Manso – O Estado de S.Paulo

Assim como migrantes nordestinos, os pancararus começaram a chegar da zona do sertão do São Francisco, em Pernambuco, em meados da década de 1950, em busca de emprego. Eles foram chamados para cortar árvores em loteamentos do bairro do Morumbi, na zona sul, e depois ajudaram nas obras da construção do estádio do São Paulo.

Instalaram-se nos terrenos vizinhos, descampados que viraram a Favela Real Parque, hoje em processo de urbanização. Estima-se que existam pelo menos mais de 3 mil pancararus na capital, o que os tornaria uma das etnias mais numerosas da cidade. “Depois do incêndio na favela (ocorrido em setembro do ano passado), muitos se dispersaram. Eram mil e hoje são cerca de 200. Estão vivendo de aluguel em outros bairros ou voltaram para a aldeia”, diz o pancararu Ubirajara Ângelo de Souza, de 47 anos, que chegou à Real Parque aos 20 anos. Seu pai trabalhou nas obras do estádio do Morumbi.

Na favela ainda existem lideranças espirituais que rezam nas casas dos indígenas locais e usam ervas medicinais para cura. Também há grupos de canto e dança que utilizam trajes tradicionais em festas indígenas na capital. Para se adaptar às transformações na cidade, os pancararus precisaram aprender a conviver nos últimos anos com as lideranças do tráfico local. “É cada um de um lado. Eu os respeito e eles nos respeitam”, diz Ubirajara, que assim que vender sua casa deve voltar para a aldeia onde nasceu, em Pernambuco. (mais…)

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‘Só minimizo impacto’, diz chefe do IBAMA

Presidente do órgão declarou a emissora de TV australiana que seu trabalho não era cuidar do ambiente do País . Curt Trennepohl disseque jornalista o agrediu verbalmente e não quis comentar frase sobre índios e aborígenes.

O presidente do Ibama, Curt Trennepohl, causou polêmica ao dizer a uma equipe de TV australiana que seu trabalho não é cuidar do ambiente, e sim minimizar impactos ambientais. Depois, sem saber que estava sendo filmado, sugeriu que o Brasil faria com os índios a mesma coisa que a Austrália fez com os aborígenes, população nativa do país da Oceania.

As declarações foram dadas à repórter Allison Langdon, do programa “60 Minutes”, que fazia uma reportagem sobre a licença de instalação da usina de Belo Monte, assinada por Trennepohl.

Na entrevista, Langdon confrontou o presidente do Ibama. Disse que seu antecessor, Abelardo Bayma, renunciara devido à pressão pelo licenciamento da usina que, segundo organizações ambientalistas, afetará os índios do Xingu, no Pará. (mais…)

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Só restou o medo. Envergonhadas, índias relatam terem sofrido abuso sexual

O sentimento é de medo, vergonha e discriminação. É o que relatam à Folha quatro jovens índias da etnia mura, que dizem ter sido vítimas de abuso sexual praticado por turistas norte-americanos em excursões de pesca esportiva em rios da Amazônia. A reportagem é de Kátia Brasil e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 17-07-2011.

Segundo elas, os estupros aconteceram há, no mínimo, seis anos. As vítimas afirmam que nunca conseguiram esquecer. Os turistas eram brancos, tinham mais de 40 anos, bebiam e tiravam fotos pornográficas.

Envergonhadas e com medo de serem discriminadas, as quatro deixaram a aldeia, na zona rural de Autazes, cidade ribeirinha a 118 km de Manaus. No local, o tema abuso sexual é tabu.

O caso veio à tona após a publicação de uma reportagem do jornal “The New York Times”, no último dia 9. Segundo o jornal, a empresa de turismo norte-americana Wet-A-Line Tours é investigada pela Justiça do Estado da Geórgia (EUA) sob suspeita de explorar o turismo sexual no Brasil.

As jovens aceitaram falar sob a condição de manterem o anonimato. “Minha família não sabe que aconteceu isso comigo. Por isso saí da aldeia e vim morar aqui na cidade. Eles não sabem de uma coisa dessa, não permitem”, disse E. Na época, ela tinha 16 anos. Hoje, está com 22. (mais…)

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Cidade de SP tem 38 etnias indígenas

O índio xavante Lúcio Waane Terowaa, de 33 anos, migrou para São Paulo há cinco anos vindo de uma tribo de Barra do Garças, em Mato Grosso. Chegou ao Itaim Paulista, na zona leste, para seguir os passos do mais famoso representante de sua etnia, o cacique Mário Juruna, eleito deputado constituinte em 1986, conhecido por gravar promessas suspeitas de políticos. A reportagem é de Bruno Paes Manso e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 17-07-2011.

No ano passado, em São Paulo, Terowaa se lançou candidato a deputado estadual pelo PSL e teve 318 votos. Em vez do gravador, usa o Facebook como ferramenta política. Tem 910 amigos, com quem debate formas de criar uma aldeia “ecologicamente correta” e autossustentável, que sirva como modelo a ser replicado no Brasil, a partir de São Paulo. “Tenho amigos virtuais de 23 etnias só aqui na cidade. É uma das maiores diversidades do Brasil e por isso São Paulo é uma base importante para a política indígena.”

As impressões do xavante são confirmadas pelo levantamento feito pela ONG Opção Brasil, que organiza cursos de educação indígena nas tribos de São Paulo. Na Região Metropolitana, a Opção Brasil já contactou índios de 54 etnias diferentes – 38 só na capital. No Estado do Amazonas, o site da Fundação Nacional do Índio relaciona 60 etnias. (mais…)

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Mato Grosso do Sul concentra 57% de todos os assassinatos de índios no país

Mato Grosso do Sul é o estado brasileiro com mais registros de casos de violência contra índios, de acordo com relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). O relatório mostra que no ano passado foram registrados 60 assassinatos de índios em todo o Brasil. Desse total, 34 deles aconteceram no estado, o equivalente a 57% de todos as mortes de indígenas registradas no país. Foram 29 mortos da etnia GuaraniKaiowá, um da etnia Guarani Nhandeva, um Terena, um Ofaye Xavante e dois Kadiweu. A reportagem é de Guilherme Voitch e publicada pelo jornal O Globo, 16-07-2011.

O relatório do Cimi também registra 150 ameaças de morte no estado e mais de mil lesões corporais. No resto do país, foram duas ameaças de morte e onze lesões corporais dolosas em 2010.

Para Roberto Liebgott, vice-presidente do Cimi, os mais de 50 mil índios do Mato Grosso do Sul estão confinados em pequenas reservas, insuficientes para a população atual. Ele lembra, por exemplo, que grandes comunidades da etnia Guarani Kaiowávivem confinadas em pequenos espaços de terra. Nos últimos anos, esse confinamento está crescendo por causa da expansão das plantações de soja e cana, acirrando o conflito por terra. As manifestações por demarcações de novas áreas estariam sendo reprimidas com violência. O maior número de assassinatos no estado aconteceu em cidades como Dourados, Amambaí e Caarapó, cidades onde estão concentrados as maiores aldeias dos índios da etnia Guarani Kaiowá.

– Isso gera um conflito com os fazendeiros, principalmente plantadores de cana. Tem havido uma ofensiva muito violenta contra os índios que não está sendo reprimida pelo poder público – diz Liebgott. (mais…)

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