Estudos apresentados durante a Semana Municipal de Cultura Afro-Brasileira permitem ao professor de História e Ciências Sociais Dagoberto Alvim, 45 anos, após seis anos de pesquisa, afirmar terem existido três quilombos em Uruguaiana. Hoje, embora em número reduzido, há descendentes diretos dos líderes de cada um dos núcleos vivendo nos locais de origem. Conforme Alvim, o primeiro deles situa-se na ERS 377, no trecho de convergência com a BR 290, a 70 quilômetros da cidade.São as famílias do Rincão dos Fernandes, escravos que adotaram o sobrenome em homenagem ao padre João Vicente Fernandes.
O religioso batizava e casava negros entre os anos de 1849 e 1863. O então proprietário da área, Antônio Martins de Oliveira, doou 163,9 hectares, verbalmente, às duas famílias. O professor salienta que a terra era devoluta e sem registro. Os herdeiros de Oliveira, anos depois, venderam o local pertencente aos Fernandes, que se viram obrigados a comprar de volta a terra que detinham desde 1860.Atualmente, vivem naquela região os netos de escravos Maria de Castro Moraes, 80 anos, e José Izar Fernandes, 73 anos. O segundo quilombo existiu no Rincão da Palma, na localidade de Adolfo Stern. Alvim diz que, em estudos de campo, encontrou Estanislau Gonçalves, falecido, recentemente, aos 97 anos.Na época, Estanislau narrou como havia obtido as terras e a trajetória do quilombo iniciada em 1858.
Os descendentes de Manoel José de Carvalho, proprietário de 1.654 quilômetros quadrados de terra e dono de 50 escravos, em testamento, passaram a Maria Eufrásia, mãe de Estanislau e outros dois filhos, uma quadra de campo, por serviços prestados como benzedeira, parteira e curandeira. Agora, o único herdeiro de Maria Eufrásia, Mário Edgar Gonçalves Pereira, detém apenas 15 hectares.Por último, o mais volumoso e importante dos quilombos localizava-se na Capela do Ipané, em terras do tenente-coronel Belchior da Costa Rabello Correa da Silva, que recebera 13 mil hectares de campo do governador da Capitania, Dom Diogo de Souza. Os negros, gradualmente alforriados, outros rebelados ou foragidos, passaram a se concentrar no Rincão do Ipané, na divisa com Alegrete. Estima-se que 200 quilombolas se reuniram naquele ponto para poderem preservar seus hábitos, costumes e religião. O professor acrescenta que os escravos mais atuantes, em vez de partirem para quilombos, preferiram fugir rumo ao Uruguai e à Argentina, preocupando estancieiros pela perda de mão de obra e do patrimônio.
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Gostaria de ter mais dados de Antônio Martins de Oliveira, constante dessa matéria.