“Estamos brigando e acabamos de recorrer da decisão da Justiça Federal de Cuiabá, que considerou os índios os donos da terra” — critica Limoeiro, admitindo que não será fácil tirar os fazendeiros da área: “Porque todos nós vamos querer ser indenizados”. A reportagem é de Liana Melo e publicada pelo jornal O Globo, 14-11-2010.
Disputa territorial remonta à década de 60
Três laudos antropológicos e 12 anos depois de homologada, a terra indígena Marãiwatsede virou alvo de uma guerra de liminares. Recentemente, a Justiça Federal do Mato Grosso decidiu pela retirada da população não indígena da área. Só que a disputa em torno da região é bem mais antiga e remonta à década de 1960. Foi quando a população xavante que vivia na área foi retirada de seu território por aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). Os índios foram transferidos para o Sul do estado, onde estava a Missão Salesiana de São Marcos.
A remoção foi traumática. De uma população de 300 pessoas, 86 delas morreram, vítimas de sarampo. No lugar das aldeias dos xavantes instalou-se a fazenda Suiá-Missú, um megaprojeto agropecuário da família Ometto, que chegou a ser considerado o maior latifúndio do país. As terras acabaram vendidas para a estatal petrolífera italiana Agip, que, na época da Eco-92, prometeu devolver as terras para os índios. A promessa, no entanto, nunca saiu do papel. Em 1998, o então presidente Fernando Henrique Cardoso assinou a homologação da terra indígena Marãiwatsede.
‘Pilhagem dos recursos naturais’, diz bispo
O bispo de São Félix do Araguaia, dom Leonardo Ulrrich Steiner — substituto de dom Pedro Casaldágila, que transferiuse para a região nos anos 70 e é adepto da Teologia da Libertação — vem acompanhando a saga dos xavantes. Ele está convencido de que, parte do milagre agropecuário ocorrido no Mato Grosso se deu por “pilhagem dos recursos naturais e de comunidades tradicionais”:
— Como o desmatamento acaba afugentando os animais, os índios estão mudando seus hábitos alimentares. Temos acompanhado a situação e é impressionante como os índices de diabetes e hipertensão estão aumentando.
Hoje, a população de Marãiwatsede é de 900 pessoas, das quais 300 delas são crianças. O maior desejo dos xavantes é juntar os parentes, espalhados pelas 78 terras indígenas. Só que, para isso, é preciso que eles passem a ter direito a terra.
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