Completaram-se quatro meses da morte de José Maria Filho, agricultor de Limoeiro do Norte. Abatido com 19 tiros, ao que tudo indica por matadores de aluguel, o seu assassinato não foi apenas uma brutalidade por si só, sugere também um aviso.
Zé Maria era personagem ativo na luta contra o uso intensivo e extensivo de agrotóxicos – pulverizado por aviões – na cultura de frutas nos perímetros irrigados da região. Participava também do movimento de agricultores desapropriados para a instalação desses projetos – Chapada do Apodi e Tabuleiro de Russas.
De acordo com estudos da médica Raquel Rigotto, professora da UFC, são despejados mais de 70 mil litros de agrotóxico a cada pulverização, atingindo localidades habitadas por mais de oito mil pessoas. Segundo a médica, são sete tipos de veneno que contaminam as pessoas diretamente, o solo e o lençol freático, poluindo a água consumida nessas comunidades (O POVO, 20/8).
A primeira coisa a dizer é a seguinte: depois das declarações de praxe das autoridades, no momento do crime, inexistem informações se a polícia encontrou alguma pista dos assassinos ou dos possíveis mandantes, ou mesmo se está se aplicando para chegar à identidade dos criminosos.
Depois, faltam explicações de instituições governamentais (federais, estaduais e municipais) sobre esses empreendimentos: se eles cumprem a legislação, se são fiscalizados, se há dinheiro público envolvido, se os consumidores de seus produtos também estão sendo envenenados, etc.
Mas esse parece ser um tema tabu; a “situação” evita o assunto e antepõe a palavra mágica “emprego” a qualquer questionamento; a “oposição” tradicional acomoda-se, pois se comporta de modo equivalente.
Que o Ceará precisa se desenvolver, que precisa atrair indústrias, que as populações (urbanas e rurais) precisam de emprego e renda, tudo isso é verdade. Mas não se pode admitir o “desenvolvimento” a qualquer custo, muito menos ao preço de vidas e da saúde das pessoas.
Chapada do Apodi, Tabuleiro de Russas: “Desenvolvimento a que preço?”