Os objetivos são reverter a imagem negativa junto à população dos grandes centros e transmitir a ideia de um setor moderno, sustentável e essencial para o desenvolvimento socioeconômico do país. Nomes como Bunge, Monsanto, Syngenta e associações como Abag (do agronegócio), Bracelpa (papel e celulose), Abef (frango), Unica (cana-de-açúcar), Fiesp (indústrias paulistas), CitrusBR (suco de laranja), Abrasem (sementes) e Sindirações (nutrição animal) fazem parte de um grupo de trabalho criado formalmente no início do ano para debater o projeto.
O custo da iniciativa ainda não está fechado, já que depende de quanto será arrecadado com os patrocinadores – membros ou não do grupo. Mas o investimento mínimo tem dois dígitos de milhões de reais. “Tem que ser uma campanha de porte, senão não terá efeito”, diz o coordenador do grupo de trabalho, Adalgiso Telles, diretor de comunicação da Bunge.
Além de campanhas publicitárias em todas as mídias, o re-posicionamento da imagem do agronegócio vai incluir trabalhos de relacionamento em redes sociais, relações públicas, levantamento de dados sobre o setor e preparação de porta-vozes do campo. “Queremos chegar a todos os segmentos da sociedade, e não apenas aos formadores de opinião que, muitas vezes, já têm seus preconceitos com relação ao agronegócio”, diz o gerente de comunicação da Monsanto, Geraldo Magella. Ao todo, são cerca de 30 iniciativas previstas.
A proposta de realizar uma campanha de massa suprassetorial no agronegócio não é nova, mas nunca havia avançado tanto. O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, entusiasta histórico da ideia, foi quem levantou-a novamente em uma reunião na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) no ano passado. Rodrigues é membro do comitê executivo do grupo de trabalho. (…)
(…) Até a escolha do garoto-propaganda já estaria feita: Lima Duarte. Outro filme para televisão seria estrelado por uma atriz mais jovem da Globo, para se aproximar dos públicos jovem e feminino. Telles ressalva que nenhum contrato foi fechado e que nenhum real foi investido. “A agência pré-selecionada para executar o programa está fazendo o projeto sem receber nada”, garante. (…)
(…) “A campanha terá uma carga emocional muito forte, mas trará fatos para mostrar como o agronegócio contribui para a sociedade”, diz o diretor de comunicação da Bunge, Adalgiso Telles, que coordena o grupo de trabalho.
N.E do Boletim “Por um Brasil ecológico…”: A experiência mostra que grandes ofensivas publicitárias como essa têm o poder de tornar a mídia (ainda mais) simpática às demandas do agronegócio. Foi o que aconteceu no final de 2003, quando foi ao ar a milionária campanha publicitária da Monsanto, cujo slogan era “Se você já pensou num mundo melhor, você já pensou em transgênicos”. A campanha foi estimada em R$ 6 milhões e veiculada em jornais, revistas, rádios, salas de cinema e no horário nobre das TVs abertas (posteriormente o CONAR, Conselho de Autorregulamentação Publicitária, condenou a Monsanto a “adequar” o conteúdo da propaganda, mas já era tarde).
A grande imprensa até então se interessava pela polêmica dos transgênicos e dava espaço para os dois lados da disputa (defensores e críticos à tecnologia), ainda que comumente pendesse para o lado mais “forte” (o do capital, do agronegócio, das grandes empresas). Depois da campanha da Monsanto, quase todos os espaços se fecharam e a defesa dos transgênicos passou a ser apresentada quase como uma unanimidade científica (como se isso fosse possível). Até hoje são raros os espaços de crítica.
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