A pós-modernidade, segundo Bauman

 

[Unisinos] – Publicamos aqui um trecho do livro “Modernità e ambivalenza” [Modernidade e ambivalência] (Ed. Bollati Boringhieri), do sociólogo polonês Zygmunt Bauman ,a ser publicado nos próximos dias na Itália. O texto foi publicado no jornal La Repubblica, 12-05-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A queda das “grandes narrações” (como Lyotard as define) – a dissolução da fé nos tribunais de apelação supraindustriais e supracomunitários – foi vista com temor por muitos observadores, como um convite a uma situação do tipo “tudo vai bem”, à permissividade universal e portanto, no fim, à renúncia a toda ordem moral e social.

Lembrando-nos da máxima de Dostoiévski, “Se Deus não existe, tudo é permitido”, e da identificação durkheimiana do comportamento associal com o enfraquecimento do consenso coletivo, chegamos a acreditar que, a menos que uma autoridade imponente e indiscutível – sagrada ou secular, política ou filosófica – esteja acima de todo indivíduo, o futuro nos reservará provavelmente anarquia e carnificina universal.

Essa crença sustentou eficazmente a moderna determinação de instaurar uma ordem artificial: um projeto que suspeitava de toda espontaneidade até que se provasse sua inocência; um projeto que colocava de lado tudo o que não estava explicitamente prescrito e identificava a ambivalência com o caos, com o “fim da civilização” assim como a conhecemos e podemos imaginá-la.

Talvez, o medo surja da consciência reprimida de que o projeto estava condenado desde o princípio. Talvez, havia sido cultivado deliberadamente desde o momento em que desenvolvia o útil papel de baluarte emotivo contra o dissenso. Talvez, era só um efeito colateral, um repensamento intelectual nascido da prática sócio-política da cruzada cultural e da assimilação forçada. (mais…)

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‘Veja foi indispensável para construir o neoliberalismo’, afirma pesquisadora

[Unisinos] – A professora do curso de História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) Carla Luciana Silva passou meses dedicando-se a leitura paciente de pilhas de edições antigas da revista Veja. A análise tornou-se uma tese de doutorado, defendida na Universidade Federal Fluminense, e agora, em livro. “Veja: o indispensável partido neoliberal (1989-2002)” (Edunioeste, 2009, 258 páginas) é o registro do papel assumido pela principal revista do Grupo Abril na construção do neoliberalismo no país.

A hipótese defendida pela professora Carla é que a revista atuou como agente partidário que colaborou com a construção da hegemonia neoliberal no Brasil. Carla deixa claro que a revista não fez o trabalho sozinha, mas em consonância com outros veículos privados. Porém, teve certo protagonismo, até pelo número médio de leitores que tinha na época – 4 milhões, afirma Carla em seu livro.

“A revista teve papel privilegiado na construção de consenso em torno das práticas neoliberais ao longo de toda a década. Essas práticas abrangem o campo político, mas não se restringem a ele. Dizem respeito às técnicas de gerenciamento do capital, e à construção de uma visão de mundo necessária a essas práticas, atingindo o lado mais explícito, produtivo, mas também o lado ideológico do processo”, afirma trecho do livro.

A entrevista foi concedida a Lia Segre do Observatório do Direito à Comunicação e reproduzida pelo Brasil de Fato, 13-05-2010. Eis a entrevista. (mais…)

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”O capitalismo de desastre é uma resposta à crise”. Entrevista especial com Vânia Cury

[Unisinos] – Criado pela jornalista e ativista canadense, Naomi Klein, o conceito de capitalismo de desastre revê questões relacionadas à obtenção de lucro em meio à calamidade. Segundo a professora do Instituto de Economia da Universidade do Rio de Janeiro, Vânia Cury, “essa exploração das situações de crise afetam as coletividades humanas, nos paralisa diante do medo, e nos torna impotentes diante da realidade”. Em conversa, por telefone, com a IHU On-Line, Vânia analisa o recente livro de Naomi Klein “A doutrina do choque: a Ascensão do Capitalismo de Desastre” e reflete sobre situações de conflito que permeiam a atualidade.

Segundo a professora, as pessoas já estão prontas para mudar em relação à situação do capitalismo atual e têm muita vontade de fazer isso. “A grande contribuição do livro de Naomi Klein, a meu ver, é exatamente essa. Embora ela faça um relato que pode nos parecer extremamente pessimista, dadas as condições que ela analisa o desenvolvimento do capitalismo, mostra também que há diversas formas de reação se esboçando no mundo. Elas são muito fragmentadas, estão desconectadas e espalhadas, mas há sim algumas iniciativas que vão sendo feitas no sentido de reunir essas forças e dar a elas uma consistência mais forte e mais integrada”, diz.

Vânia Maria Cury possui graduação em História pela Universidade Federal Fluminense, mestrado e doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente, é professora aposentada da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Confira a entrevista. (mais…)

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Abolição inacabada – Lançada a Plataforma Brasileira pelas Ações Afirmativas

Marcio Alexandre (Marçola)

Rio – No dia em que o Brasil lembra os 122 anos de Abolição da Escravidão, o jornalista Márcio Alexandre, liderança da nova geração do Movimento Negro, lança a Plataforma Brasileira pelas Ações Afirmativas, que propõe a discussão do tema de forma mais ampla na sociedade.

Márcio, 38 anos, que se afastou da direção do Coletivo de Entidades Negras (articulação surgida na Bahia e que reúne, principalmente, ativistas ligados às religiões afro-brasileiras) para trabalhar na proposta, disse que a Plataforma é uma tentativa de propor um debate com atores que não se restrinjam ao movimento negro, que seja capaz de envolver a sociedade.

Segundo ele, que é colunista de Afropress, isso é ainda mais necessário, depois do fracasso da proposta do Congresso de Negros e Negras (CONNEB), lançado em janeiro de 2.006 e que pretendia, na sua origem, reunir entidades do movimento negro para um programa comum de ação.

Ele atribuiu o fracasso a erros políticos, mas não deixou de responsabilizar, sem citar nomes, determinadas lideranças que, segundo afirma, não tiveram papel positivo. “Sejamos francos: sem aprofundar muito, o fato é que tem gente que parou no tempo, quer discutir temas atuais a partir de visões dos anos 1.960/1970 que não fazem mais sentido se discutir hoje. Ou seja: muita visão retrógrada, atrasada, muita gente posando de dono da verdade. Tudo isso, num pacote, cansou, fez água e por isso, a meu ver, o CONNEB fracassou”, concluiu. (mais…)

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Grandes projetos: investimento na insanidade humana, artigo de Doroti e Egydio Schwade

[Adital] Do meio da multidão de índios e seus aliados em festa, na aldeia de Maturucá/Raposa-Serra do Sol/RR, ouvi atentamente o discurso de Lula.

Discurso impecável. Mas em conversa com os seus assessores e ouvindo, alguns dias depois, entrevista de Lula sobre a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, parecia estar de volta no tempo, Rio de Janeiro/1973, participando da 81ª Assembléia do Conselho Nacional de Proteção aos Índios. Naquela Assembléia o Gal. Carlos Alberto Torres declarou: “A integração do índio na comunidade nacional é inexorável e faz parte do desenvolvimento do Brasil”. E o presidente da FUNAI, Gal. Oscar Jerônimo Bandeira de Mello “referindo-se às diretrizes da Funai voltou a ressaltar que o Índio não pode deter o desenvolvimento”.

Lula e seus assessores sustentam a mesma posição sobre os projetos do PAC. Assim, consideram a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte irreversível, não porque eles o queiram, mas porque foi determinado do alto, instancia que Lula define como exigência do governo de levar o Brasil a 5ª Potência mundial. Mero interesse de empresas multinacionais. Para torná-la uma ideia fixa de todo o mundo, a TAM condena, horas e horas, todos os seus passageiros a lerem esta frase, inscrita em todas as poltronas das suas aeronaves: “O Brasil será a 5ª Potencia mundial na próxima década. Qual a vantagem para a sua empresa?”

Outro argumento para a construção de hidrelétricas é a produção de energia limpa. Entretanto, esquecem os governantes de dizer que o produto das hidrelétricas vai alimentar também os maiores poluidores da natureza. Para quem se destina 75% da energia produzida por Tucuruí, senão para garantir o funcionamento das duas maiores poluidoras do Pará: duas empresas multinacionais que exploram o alumínio? E nas cidades, investimentos do governo e dos bancos, aumentam os problemas ambientais financiando fábricas de plásticos, montadoras de carros e máquinas de todo o tipo que espalham e poluição pela a face da terra. (mais…)

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Será realizado na próxima semana o III Congresso Nacional da CPT

III Congresso Nacional da CPT

Com o lema “No clamor dos povos da terra, a memória e a resistência em defesa da vida”, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) realiza seu terceiro Congresso Nacional, na cidade de Montes Claros (MG), semiárido brasileiro. Entre os dias 17 e 21 de maio, o evento irá receber cerca de 800 pessoas, entre agentes da pastoral da terra, trabalhadores, trabalhadoras, convidados, representantes de movimentos sociais e estudiosos de todo o país.

No III Congresso Nacional da CPT, como nos anteriores, a participação maior será de trabalhadores e trabalhadoras do campo. Eles é que apontarão os rumos para as ações da CPT nos próximos anos, para que ela mantenha sua fidelidade ao Deus dos pobres e aos pobres da terra.

O III Congresso alternará momentos de celebração com os de reflexão. Será celebrada a memória das lutas enfrentadas, das vitórias duramente conquistadas e o sangue derramado pelas centenas de mártires da terra. Serão ouvidos, também, os clamores que vêm do campo. Os clamores em defesa dos territórios ocupados e reivindicados pelas comunidades tradicionais; os da infinidade de famílias que resistem nas beiras das estradas à espera da Reforma Agrária, repetidamente anunciada e prometida, mas ignorada por quem deveria concretizá-la. Clamores de colonos e agricultores familiares que buscam produzir os alimentos de forma saudável, resgatando as sementes “crioulas”, “nativas” ou “da paixão”, e buscando produzir de forma natural, orgânica, livre da agressão dos venenos e do controle das grandes empresas transnacionais. Clamores ainda, de trabalhadores submetidos ao trabalho escravo, tratados como mercadoria descartável, espoliados de sua dignidade e cidadania.

O clamor dos povos do campo são gritos de resistência em defesa da vida, em defesa dos valores e da cultura camponeses. São também gritos em defesa da própria natureza, dos biomas e de sua biodiversidade agredida, violentada, depredada, destruída. (mais…)

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Fazenda Guarani: MPT ajuíza ação cautelar para garantir pagamento de trabalhadores em condição degradante na Bahia

O Ministério Público do Trabalho – MPT ajuizou, no último dia 28 de abril, uma ação cautelar contra os administradores da Fazenda Guarani, sediada em São Desidério/BA (Belmiro Catelan e Jair Donadel), pedindo o bloqueio das contas correntes e aplicações mantidas junto a instituições financeiras. O objetivo é assegurar o deslocamento da família Konarzewski para a terra natal, assim como a manutenção provisória e verbas trabalhistas devidas e vencidas. A família integra o grupo de trabalhadores que, em março deste ano, foi flagrado em condições degradantes e jornada extenuante, na Fazenda Guarani, pela fiscalização do Grupo Móvel de Combate ao Trabalho Escravo. A ação tramita na Vara do Trabalho de Barreiras, sob nº 0000650-92.2010.5.05.0661.

Contratados por intermediário, os empregados da Fazenda Guarani foram encontrados trabalhando na capina do algodão sem equipamentos de proteção individual (EPI), em meio à aplicação de agrotóxicos. Viviam em alojamento com condições precárias de higiene, com colchões velhos, sem chuveiro, armários ou local para refeições. Na sede da fazenda, foram flagrados empregados aliciados no Rio Grande do Sul, também em jornada exaustiva, com salários retidos, sem receber 13º ou férias, sem registro na CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência Social) e sem intervalo ou repouso semanal. Entre esses, os Konarzewski.

Com o flagrante da operação do grupo móvel, realizada em parceria do MPT, Ministério do Trabalho e Emprego e Polícia Federal, a Fazenda Guarani concordou em regularizar as pendências trabalhistas dos empregados, que totalizava R$ 800 mil. Sob a condução do procurador Luís Antonio Barbosa, firmou um termo de ajustamento de conduta (TAC) com o MPT, comprometendo-se a corrigir as condições de segurança e saúde, salários e jornada dos trabalhadores. Mas o TAC não foi cumprido, agravando a situação dos trabalhadores. (mais…)

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Goiânia, 16 e 17 de junho: Audiência pública discutirá o trabalho escravo em Goiás

Trabalho escravo, vamos abolir de vez essa vergonha

Os dados a serem levantados vão subsidiar eventuais medidas extrajudiciais ou judiciais a serem propostas pelo Ministério Público Federal

O Ministério Público Federal (MPF/GO), por meio da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, promove a audiência pública “Erradicação de Trabalho Escravo”, nos dias 16 e 17 de junho, no auditório da Procuradoria de República em Goiás. As inscrições estarão abertas no período de 1º a 11 de junho pela internet.

De acordo com o procurador regional dos Direitos do Cidadão Ailton Benedito de Souza, o objetivo da audiência é convocar os agentes responsáveis pelas políticas públicas de promoção de direitos, assistência e proteção das vítimas de trabalho escravo, bem como pela prevenção e combate dessa prática, para que prestem informações e contas de suas ações ou omissões pertinentes a esta temática. Os dados a serem levantados vão subsidiar eventuais medidas extrajudiciais ou judiciais a serem propostas pelo Ministério Público Federal. (mais…)

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‘A Terra está brava com o homem branco’, diz líder yanomami Davi Kopenawa na estreia da ópera ‘Amazonas’

Davi Kopenawa
Davi Kopenawa
Com sábio carisma, xamã é “Dalai Lama da Floresta Tropical”. Seu povo trava em Roraima batalha de vida ou morte contra garimpeiros e destruição ambiental. Deutsche Welle o entrevistou em Munique na estreia de “Amazonas”.

Imagine abrir a porta e 20 estranhos lhe entrarem casa adentro, ocupando todos os cômodos, esgotando seus mantimentos, envenenando o ambiente, provocando doenças, agredindo, intimidando, deixando-o sitiado num quarto dos fundos, incapaz de sair para cuidar da própria subsistência. Por quanto tempo tal situação seria suportável?

Projetado em proporções genocidas, é isso o que vem acontecendo com os índios yanomami nas últimas décadas. Segundo o antropólogo francês Bruce Albert, entre 1987 e 1990 havia no território deles, em Roraima, 40 mil garimpeiros, ou seja, cinco a seis vezes o total da população indígena. Além dos mortos em confrontos violentos, um quinto dos yanomami sucumbiu ao impacto ambiental do garimpo e às doenças do homem branco.

Após anos de arrefecimento da invasão, a alta do metal nos mercados vem provocando uma nova corrida do ouro, e, com ela, mais doenças, saques, prostituição, violência sexual, aids e outras doenças. A presença do Exército, ao invés de impor ordem, exacerba a situação.

Devido a sua sabedoria e carisma suave, o xamã Davi Kopenawa é apelidado “Dalai Lama da Floresta Tropical”. Ele é o principal “parceiro contemporâneo” indígena convidado a participar da elaboração do teatro-música Amazonas, produzido pela Bienal de Munique, ZKM de Karlsruhe e Instituto Goethe, entre outros. A esperança dos envolvidos no projeto que durou quatro anos é, através das apresentações em diversas cidades da Europa e do Brasil, sensibilizar para a problemática do povo nativo ameaçado de extinção. (mais…)

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Ópera ‘Amazonas’ estreia na Alemanha

Quase ninguém no Brasil está sabendo: Em Munique estreou nesta última semana a primeira ópera internacional sobre a ameaça da Bacia Amazônica e dos Yanomami.

[Por Norbert Suchanek, para o EcoDebate] Os realizadores deste projeto caríssimo – um projeto com a participação do Instituto Goehte Alemanha, do SESC São Paulo e outros financiadores poderosos como o Banco Alemão e a Petrobras – escrevem: “A destruição do espaço vital da floresta na bacia amazônica avança dramaticamente. Ponto de encontro de caçadores de ouro e etnólogos, protetores do meio ambiente e biopiratas, de defensores dos direitos humanos e barões da droga, de habitantes ribeirinhos desprovidos de posses e senhores de gigantescas plantações de soja, de artistas, políticos, mediadores culturais e teólogos, e de um exército de cientistas, a região amazônica é, simultaneamente, espaço vital para um grande número de grupos indígenas – como os 33.000 Yanomami, que vivem na região fronteiriça entre Brasil e Venezuela.”

A estreia desta ópera aconteceu durante a Bienal de Munique, no dia 8 de maio de 2010. Um dia antes, no evento na sede do Instituto Geothe, em Munique, cientistas, artistas e Davi Kopenawa Yanomami discutiram sobre o presente e o futuro da Amazônia. (mais…)

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