Há povos que se movem pela sobrevivência, empresas que se deslocam pelo lucro. Nós, caravana dos atingidos pela Vale, percorremos a região norte do País movidos pelo choro do povo e da natureza.
Em Bacabeira-Vila do Conde, região industrial e grande porto de exportação do Pará, encontramos várias comunidades e pessoas chorando. A Vale tem vários empreendimentos lá: Alunorte, Alubrás, Pará Pigmentos e um projeto de nova termoelétrica.
As comunidades não tem vergonha de lamentar, na frente de amigos de outros países, sua precariedade em situações de despejo, extrema poluição, falta de perspectivas. Com um abraço manifesta-se a solidariedade dos companheiros do Chile, Peru, Canadá, Ceará, Rio, Pará e Maranhão. Os moçambicanos comentam: “Em nossa região, pelos despejos que a Vale está provocando, o povo está começando a odiar os brasileiros. Mas, vendo estas suas lágrimas, entendemos que é a empresa quem merece nosso repudio!”
Na terra dos cabanos, todos percebem que a luta dos antepassados não foi em vão, mas continua firme e precisa de muita articulação.
“Eu sou um matuto do campo”, diz Alexandre, representante da comunidade indígena Anacé-CE. “Eu choro quando escuto camponeses querendo deixar suas terras. Morre nossa alma e nossa história. Essas firmas estão arrancando nossas raízes. Estou com medo que isso aconteça comigo também, lá em Pecém: estão levantando de uma vez, ao nosso redor, uma siderúrgica, uma termelétrica e uma refinaria!”
Uma vereadora poucos dias antes tinha falado às claras: “Sentimos muito por esses pequenos grupos, mas o interesse da gente é maior, está com as empresas”.
E a caravana vai, em busca de uma política inclusiva. “Nós não somos contra as empresas -diz o povo- mas elas não podem acabar com a gente!”
Luís, advogado peruano, sonha a olhos abertos: em vários povoados, lá no Peru, tiveram processos de consulta popular. Assim como o povo escolhe seus representantes políticos, pôde escolher seu futuro. 90% defenderam, para suas regiões, a agricultura familiar.
Os governos deveriam garantir autoridade e poder a essas formas de autodeterminação popular. De que maneira os povos atingidos ou ameaçados pela cadeia minero-siderúrgica podem participar à construção do futuro em suas terras? Serão um dia protagonistas dos planos de investimentos em seus territórios?
A caravana deixa Barcarena com essas perguntas na cabeça e com o choro do povo nas entranhas. Nos olhos, porém, o brilho da esperança e da organização.
“Nossa luta para os próximos três anos é continuar animando a rede de 250 associações que se articulam no enfrentamento das empresas. Estamos construindo o Fórum de Políticas Públicas de Barcarena, onde sentem juntos representantes populares, da administração pública e das empresas. Agora que o dano está posto e não tem como voltar atrás, pelo menos precisamos reconhecer o povo como ator principal de seu futuro.
Buscamos gerenciar um Fundo Social para o desenvolvimento popular de Barcarena”.
A viagem continua rumo Marabá e o debate no ônibus se esquenta entre os 30 membros da caravana: dialogamos sobre Fundo de Desenvolvimento, Análise de Equidade Ambiental, luta paralelas no Moçambique e no Canadá, formação sindical… a caminhada é longa, mas o laboratório de alternativas está posto e a caravana vai fazendo fermentar modelos e perspectivas diferentes: um outro desenvolvimento é possível!
Fonte: GT Articulação Mineração e Siderurgia / RBJA
Adorei o vídeo. Muito bom. Parabenizo o Padre Dário pelo relato. E lembro que é também necessário agirmos preventivamente em lugares onde o dano não foi ainda estabelecido, mas que poderão se tornar novo vale de lágrimas, como o de Barcarena.