Karol Assunção *
Adital
O destino de cerca de 30 famílias indígenas Xakriabá poderá ser decidido amanhã (9). Isso porque, às 14h, será realizada, na Justiça Federal de Montes Claros, em Minas Gerais, uma Audiência Pública para discutir a permanência dos indígenas na aldeia de Morro Vermelho, localizada próxima à sede do município de São João das Missões.
De acordo com cacique Santo Caetano Barbosa, a ideia da Audiência é negociar para, assim, conseguir suspender a liminar de reintegração de posse concedida a favor dos fazendeiros. “O objetivo é garantir a permanência na aldeia [de Morro Vermelho]”, comenta, destacando que 32 famílias vivem no local e lá construíram uma história. “Aqui temos 20 cisternas construídas, várias casas, o EJA [Educação para Jovens e Adultos] está funcionando…”, enumera.
Não é de hoje que os Xakriabá lutam pela posse das terras tradicionais. Segundo informações do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), no final da década de 1970, a Fundação Nacional do Índio (Funai) criou um Grupo Técnico para identificação territorial. A demarcação, no entanto, reduziu consideravelmente – para menos de um terço – a área original.
Com as terras nas mãos dos fazendeiros, os indígenas foram para a periferia das cidades próximas ao local. Vivendo em condições precárias, as famílias resolveram, no dia 2 de maio de 2006, voltar à terra ancestral. “Os índios mais antigos sempre tiveram o sonho de voltar para a aldeia”, lembra Barbosa.
De acordo com o cacique, mesmo com a liminar a favor dos fazendeiros, o grupo permanece no local em resistência. Ele revela que, no início, as famílias recebiam ameaças, situação que melhorou após denunciarem os casos ao Ministério Público Federal. “Mas a qualquer tempo, a qualquer hora, o negócio pode ferver”, receia.
Entretanto, na opinião dele, até mesmo os fazendeiros já entenderam que a área em questão é mesmo dos Xakriabá. Para o cacique, o que os fazendeiros querem, agora, é a indenização. “Eles querem é o dinheiro”, acredita.
Cacique Santo lembra que esse não é um problema exclusivo das famílias da aldeia do Morro Vermelho e, muito menos, dos Xakriabá. “Os indígenas no Brasil todo estão saindo de suas terras”, afirma, destacando que eles continuarão resistindo às tentativas de expulsão: “pretendemos não sair, mas não sabemos o que vai acontecer”.
Além da aldeia de Morro Vermelho, duas outras aldeias Xakriabá passam pelo processo de retomada. De acordo com Barbosa, os indígenas lutam também pela revisão dos limites da área. Segundo ele, antropólogo da Funai e Grupo Técnico já realizaram estudos no território, faltando agora apenas a entrega do relatório. “Há pouca terra para muitos índios. Somos cerca de 9 mil. Somente duas áreas foram demarcadas e as terras são improdutivas. As terras boas ficaram nas mãos dos fazendeiros que estão ocupando terras que pertencem a nós”, desabafa.
* Jornalista da Adital
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=46759