O canal de televisão Channel 7 foi declarado culpado pelo regulador da imprensa na Austrália por racismo e por exibir material impreciso sobre uma tribo indígena brasileira, divulgou, esta segunda-feira, a organização não-governamental Survival International.
Segundo um comunicado de imprensa da organização que defende os direitos indígenas, o programa exibido pela emissora australiana classificou a tribo brasileira dos Suruwaha como “assassinos de crianças”, “relíquias da Idade da Pedra” e alguns dos “piores violadores dos direitos humanos no mundo”.
A Survival International reclamou ao regulador australiano ACMA, depois que o Channel 7 recusou-se a publicar uma correção à emissão, que foi ao ar no programa Sunday Night, em setembro de 2011.
Num julgamento considerado “histórico” pela ONG, a ACMA declarou que o Channel 7 é culpado “pela quebra da sua cláusula de racismo e provocar um intenso desgosto, sério desprezo ou severo ridículo de uma pessoa ou um grupo”.
De acordo com a Survival, “acredita-se que é a primeira vez em que uma emissora foi declarada culpada por esta ofensa séria sob o código de televisão de 2010”.
A ACMA também declarou, segundo a ONG, que “o Channel 7 é culpado por emitir material impreciso”.
“Essa foi uma das piores matérias sobre povos indígenas contemporâneos que já vimos. Fantasiaram-nos como monstros cruéis e inumanos, no mesmo desprezo colonialista do século XIX que os consideravam como ‘selvagens primitivos'”, disse hoje o diretor da Survival International, Stephen Corry.
De acordo com a organização de defesa dos direitos indígenas, “os Suruwaha (tribo da região amazónica) têm sido atacados por missionários fundamentalistas há anos”.
Estes missionários estariam, segundo a ONG, liderando uma campanha que calunia os Suruwaha como assassinos de crianças e estariam por trás de um projeto de lei que os permitiria remover crianças indígenas de suas comunidades, algo com “ecos horripilantes do escândalo das Gerações Roubadas (crianças aborígenes retiradas de suas comunidades entre as décadas de 1910 a 1970, na Austrália)”.
“A equipa do Channel 7 disse aos Suruwaha que lhes permitiria mostrar o seu lado da história, contudo, acabaram produzindo uma das definições mais grotescas e distorcidas de um povo indígena que podemos nos lembrar”, referiu o comunicado.
O programa, sublinhou a ONG, promoveu abertamente uma arrecadação de recursos para os missionários na sua página da Internet.
Estes missionários pertenceriam à organização JOCUM (um ramo brasileiro da organização norte-americana Jovens com uma Missão), segundo a nota da organização.
“Nós esperamos que esta decisão signifique que veremos menos lixo como esse na televisão no futuro”, indicou ainda o comunicado.
O Channel 7 pediu uma revisão judicial do processo no Tribunal Federal da Austrália.
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/Brasil/Interior.aspx?content_id=2788156&page=-1