Moradores de Cabrobó (PE), na região do afluente Pajeú, Ana Maria Callou e Valdenis Brito contaram, de maneira emocionada, a triste experiência que estão vivendo. Valdenis faz parte da comunidade quilombola Jatobá e já começa a perceber problemas sérios nos cultivos de cebola, uma das principais culturas da região. “Antes colhíamos duas safras por ano. Desde que iniciaram as desapropriações de terra, isso não acontece mais.”, lamenta. Morando à 3 kilômetros do canal da Transposição, Valdenis não acredita que terá acesso a água e lamenta as desapropriações que estão acontecendo. “Será que eles pensam que é só indenizar? Que a casa onde as pessoas moraram não tem valor?” questiona. “Quando a máquina passa pelas nossas casas destrói a nossa vida”, finaliza.
Ana concorda. Há apenas um mês ela foi retirada da sua terra. Essa não é a primeira vez que ela passa por essa situação. Há alguns anos foi obrigada a sair de sua casa devido a construção de uma barragem. “Fomos reassentados, mas quem vive só de casa? A gente vive do pão que produz e sem a nossa terra, o que vamos fazer?”, fala emocionada. Apesar de lamentar a inexistência de uma mobilização prévia que evitasse as desapropriações, Ana diz que as pessoas da sua comunidade começam a se organizar para reivindicar mais coisas. “A gente saiu, mas enquanto não derem o que estamos reivindicando, não permitiremos que eles dêem continuidade às obras do canal”, promete. Aos que a ouvem com atenção, aconselha: “Eu peço que não deixem acontecer com vocês o que fizeram comigo”.
Na opinião de Ruben Siqueira, assessor do plenarinho e membro da Articulação Popular São Francisco Vivo, as situações contadas Participantes do Plenarinho sobre o rio São Francisco durante a 33ª Romaria da Terra e das Águas.nas experiências revelam a verdadeira face da obra da Transposição do São Francisco e a caracterizam como um “negócio da água”. Ele lembra que em agosto o Comitê da Bacia do São Francisco deve iniciar a cobrança pelo uso da água do São Francisco. “Os valores cobrados dificultarão ainda mais o acesso dos mais pobres às águas do rio”, analisa.
Outros empreendimentos econômicos que prejudicam as populações que vivem ao longo da bacia do São Francisco também foram lembrados pelos participantes, como a Ferrovia Transnordestina e o projeto de irrigação do Baixio de Irecê. Valdeci Veiga foi uma das participantes do plenarinho. Saber o que está acontecendo com as pessoas prejudicadas pelas obras de transposição foi uma importante troca de experiência sobre os impactos dos grandes empreendimentos econômicos. “Toda vez que nos reunimos é uma força para a nossa luta. Precisamos fazer a resistência acontecer se não os projetos são empurrados para a gente goela abaixo”, conclui.
Informe da CPT/BA, publicado pelo EcoDebate, 05/07/2010
http://www.ecodebate.com.br/2010/07/05/atingidos-pela-transposicao-participam-do-plenario-do-sao-francisco/