RJ – Único quilombo reconhecido na Baixada luta para sair do esquecimento

Dona Janaina Silvana Sardina , Rosiele Ribeiro junto com seus filhos no lugar onde Maria Conga ia lavar roupa Foto: Cléber Júnior / Extra
Aline Custódio
Margeando a linha férrea que cruza Magé, o único quilombo da Baixada Fluminense reconhecido pelo Ministério da Cultura ainda luta para sair do esquecimento. Apesar de homenagear a escrava guerreira que fundou um quilombo na cidade, o Maria Conga não tem motivos para comemorar, hoje, o Dia da Consciência Negra.

— Não temos água encanada, saneamento básico, escola ou asfalto. Em pleno século 21, continuamos num quilombo — desabafa o montador José Carlos Marinho da Conceição, de 50 anos, sintetizando uma ideia comum entre as 180 famílias do Maria Conga.

Tataraneta de Dona Candinha, moradora que conheceu a escrava Maria Conga, Michelle Franco, de 30 anos, lamenta que nem a importância histórica teve forças para fazer o bairro se desenvolver.

— Não adianta falarmos que estamos num lugar histórico, se falta tudo por aqui — diz Michelle.

Certificado em 2007 pelo Ministério da Cultura, o Maria Conga é um dos 24 reconhecidos no Rio de Janeiro. Porém, pouco conserva da história dos antepassados. A vertente onde a escrava lavava roupas, por exemplo, está escondida na mata de um terreno alugado por Rosiele Ribeiro, de 30 anos, que nasceu no Maria Conga.

— Vi a placa do sítio e, só então, descobri que eu estava num quilombola — revela, orgulhosa.

Moradora do quilombo Maria Conga leva a filha nas costas

Sobrinha de Honório Martins, que conviveu com a escrava, Ivone de Mattos Bernardo, de 48 anos, fundou o Centro Social Quilombo Maria Conga para tentar manter viva a história do quilombo.

— Apesar de os moradores viverem em harmonia, é preciso ser guerreiro como Maria Conga para continuar aqui. Será mais um 20 de novembro de lamentações — desabafa.

Segundo o prefeito de Magé, Nestor Vidal, este deve ser o último Dia da Consciência Negra que os moradores do Maria Conga passarão no esquecimento. A prefeitura criará a Divisão da Consciência Negra para desenvolver políticas específicas para o setor.

— Temos parte da história do Rio de Janeiro e não vamos esquecê-la — garante.

Segundo a história, Maria Conga nasceu na África, em 1792. Junto com a família, chegou ao Brasil num navio negreiro, em 1804, desembarcando na Bahia. Separada dos pais e dos irmãos, foi vendida para um senhor de engenho em Salvador e batizada com o nome de Maria da Conceição. Aos 18 anos, chegou a Magé após ser vendida para um alemão no porto de Piedade. Com 24 anos, foi vendida novamente. Desta vez, para o conde alemão Ferndy Von Scoilder. Maria Conga ganhou a liberdade 11 anos depois.

Aos 35, ela fundou o quilombo para proteger os refugiados. Aos mais próximos, contava ter sido estuprada pelo senhor de engenho e que ele tinha tomado o corpo dela, mas não a alma. Morreu em 1895. Em 1988, Magé proclamou Maria Conga heroína da cidade.

http://extra.globo.com/noticias/rio/unico-quilombo-reconhecido-na-baixada-luta-para-sair-do-esquecimento

Comments (2)

  1. Esta é uma homenagem a uma mulher guerreira, que veio escravizado do Congo e lutou para a libertação de seu povo no Brasil.

    Estamos no mês da história da escravidão no Brasil. Escravidão negra africana no Brasil Colônia, tráfico de escravos, os navios negreiros, trabalho escravo nos engenhos e nas minas de ouro, os castigos, as revoltas, os quilombos, carta de alforria, fim da escravidão, Lei do Ventre Livre, Lei dos Sexagenários, Lei Áurea, Abolição da escravatura em 13 de maio de 1888.

    O tesouro cultural que Magé desconhece. O município de Magé, hoje praticamente uma cidade-dormitório, abriga um tesouro desconhecido, inclusive, por boa parte de seus 250 mil habitantes. Bem próximo ao Centro, lá está encravado o Morro da Maria Conga.

    Tivemos governos que procurou destruir todas as referências da cultura negra na região. Principalmente uma Família que ficou no poder por vários anos.

    Em passeio pela cidade é possível conhecer preciosidades históricas como o Morro do Bonfim, rota de fuga dos negros em direção ao Quilombo de Maria Conga – que se transformava num campo de batalha quando os senhores dos escravos mandavam seus jagunços virem resgatá-los – e Piedade, tradicional bairro negro de Magé, onde os escravos montavam toda a sua estratégia de resistência. Neste bairro encontra-se a Praça do Leilão, antigo porto de desembarque escravo, aonde ao chegar da África, os negros eram acorrentados no paredão. Ainda na Piedade há uma capela inteiramente construída por negros, além de um túnel, escavado por eles, que dá acesso ao Quilombo de Maria Conga, que morreu aos 95 anos de idade.

    Resgatar a saga da comunidade negra na região, porém, não é tarefa das mais fáceis. Pelo contrário. Uma sucessão de administrações absolutamente desinteressadas em preservar este belo capítulo da história do povo brasileiro, impediu que a população local travasse contato com suas raízes. Felizmente, há exceções. Fala exaltada e veemente Marcílio da Costa Faria, 68 anos, veterano militante da causa negra no Brasil, é uma delas. É assim como se fosse um patrimônio cultural ambulante de Magé.

    A função do Grupo Resgate Memória Magé é resgatar a nossa História que certamente despertará aos mais jovens o interesse nessas Relíquias desconhecidas.

    Gilvaldo Dias Guerra
    GRUPO RESGATE MEMÓRIA MAGÉ

    Veja o vídeo
    http://www.youtube.com/watch?v=8UNjr445sDQ&feature=channel&list=UL

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