De Gabriela Calotti (AFP)
PARIS — Os partidos de ultradireita da Europa que nos últimos dez anos ganharam espaço nas urnas estão nesta segunda-feira no banco dos réus depois das matanças da Noruega cometidas por um ex-militante do populista Partido do Progresso, que denuncia o crescimento do islamismo do Velho Mundo.
Anders Behring Breivik, de 32 anos, principal suspeito da matança de pelo menos 76 pessoas em Oslo e na ilha de Utoya na última sexta-feira, apresentado pelas autoridades como um “fundamentalista cristão”, militou no Partido do Progresso (FrP) entre 1999 e 2006 e era representante da ala da juventude local.
“Fico ainda mais triste saber que ele foi membro do nosso partido”, declarava no sábado Siv Jensen, líder do FrP, segundo maior partido político da Noruega – ocupa 41 dos 169 cadeiras do Parlamento – que defende um endurecimento da política de imigração e denuncia uma islamização da sociedade.
O cientista político especialista em extrema direita, Jean Yves Camus, considera que o “assunto principal” é saber “que relação existe entre a violência política de extrema direita e o avanço de formações populistas xenofóbicas, algumas claramente de extrema direita”.
Ele afirma que esses partidos assumem um papel contraditório: “freiam” as expressões mais violentas, mas “criam pessoas que em algum momento” abandonam essas estruturas.
Segundo o especialista francês em países escandinavos, Cyril Coulet, esse foi o caso de Breivik que considerou o FrP “moderado demais”.
ONGs que lutam contra o racismo e a xenofobia apontam imediatamente que a responsabilidade dessas tragédias é das formações ultradireitistas. O caso da Noruega mostrou “o verdadeiro rosto da extrema direita”, segundo a associação SOS Racismo.
“Em toda a Europa, os partidos populistas e de extrema direita (…) têm uma forte responsabilidade no clima de destruição que pesa em todo o continente”, afirmou o Movimento contra o Racismo e pela Amizade dos Povos (MRAP) que mencionou as formações de extrema direita presentes na França, Noruega, Dinamarca, Hungria e Holanda.
A ultradireita também ganhou força na Suécia, Finlândia, Bélgica, Bulgária, Áustria, Itália, Grécia e Eslováquia.
Estas acusações deixaram os líderes da extrema direita na defensiva.
Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, que nos últimos meses chegou a ter mais de 20% das intenções de voto nas pesquisas para as eleições presidenciais da França em 2012, acusou o MRAP de fazer uma “amálgama (…) entre a FN e o terrível drama norueguês” que atribuiu a um “indivíduo desequilibrado”.
O líder do Partido para a Liberdade (PVV), o holandês Geert Wilders, também atribuiu os ataques a um “espírito violento e doente”.
“Querem comprometer os partidos de direita com este tipo de gente. Não temos nada a ver com este tipo de gente” se defendeu Filip Dewinter, líder do partido de extrema direita flamengo, Vlaams Belang, que nas últimas eleições belgas teve 12,6% dos votos.
“Ainda assim, o FrP se distancia de sua volta e deverá se perguntar sobre os abomináveis feitos que pode alimentar”, opina o editorial do jornal Liberation.
O movimento de extrema direita English Defence League (EDL) desmentiu contatos com Breivik a quem as autoridades norueguesas apresentaram rapidamente como um “norueguês de origem” para evitar especulações sobre uma autoria islamista.
Os especialistas concordam que depois dos atentados de 2001 nos EUA, atribuídos à rede islamita Al-Qaeda, partidos no poder e serviços de segurança se concentraram no extremismo islâmico.
“Depois do 11 de setembro, os neoconservadores americanos deram ênfase à luta contra o ‘islamo-fascismo’ e reafirmando contra o islã as temáticas da subversão comunista”, que “teve um grande êxito na opinião pública”, afirmou o francês Nicolas Lebourg ao diário Le Monde.
Camus lembra da influência dessas ideias e alerta: “tem gente brincando com fogo”.
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5g0YkAFuavvj1ne8e9HgLIH4Nagxg?docId=CNG.56fbc654aad7aab055802a0722102e97.941