Informe dos Vazanteiros e Quilombolas da retomada de Minas Gerais

Autodemarcação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Pau Preto têm início com retomada da Sede por 105 famílias das comunidades de Pau Preto, Pau de Légua e Quilombo da Lapinha

Ontem, domingo, 24 de julho, 105 famílias de três comunidades vazanteiras dos municípios de Matias Cardoso e Manga retomaram a ex sede da Fazenda Catelda. O propósito da retomada foi o  de darem início à autodemarcação de seus territórios tradicionais. Segundo D. Helena, da comunidade de Pau Preto, o gesto da ação iniciada no domingo pelo “Vazanteiros em Movimento: Povos das Águas e das Terras Crescentes” tem o objetivo principal de “zelar do que é nosso”. Ela aponta para as proximidades e diz que foi ali que ela viveu sua infância, terra dos avós, antes de perderem o direito de lá  ficarem vivendo com a chegada das fazendas demarcadas pela Ruralminas. E ela é bem enfática com suas palavras: nós fomos obrigados a retomar nossa área começando pela Sede, pois estava tudo sendo distiorado. E ela aponta para o absurdo de fazerem uma criação de porcos em uma das casas da sede da fazenda, aponta para as casas cujas portas e janelas foram roubadas, pelo mato tomando conta até dos telhados.

E o movimento dos Vazanteiros mostrou que não veio para ficar parado. A primeira ação foi a de dar inicio à limpeza das cercas, do quintal e de uma das dez casas que estava abandonada. Dividiram-se depois em comissões: limpeza, alimentação, segurança, e a de negociação. Leninha, liderança do Quilombo da Lapinha que integra a Comissão de Negociação, diz que esta comissão é a linha de frente para cuidar do interesse do movimento, resumindo as propostas que possuem para dar início ao poder público – IEF, INCRA MG e SPU:

  • Reconhecimento e regularização pelo Governo de Minas Gerais da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Pau Preto que fica no entorno do Parque Estadual Verde Grande, município de Matias Cardoso;
  • Reconhecimento e regularização da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Pau de Légua que fica no entorno do Parque Estadual da Mata Seca, município de Manga;
  • Destinação das áreas da União do Rio São Francisco para as comunidades vazanteiras do São Francisco com o objetivo de possibilitar a ordenação e uso racional e sustentável dos recursos naturais mediante a outorga de Termo de Autorização de Uso Sustentável – TAUS, a ser conferido pela SPU de acordo com a Portaria 89 de 15 de abril de 2010;
  • Realização pelo INCRA MG do RTID – Relatório Técnico de Identificação e Delimitação do Território do Quilombo da Lapinha, município de Matias Cardoso;
  • Destinação pelo IEF da Sede da Fazenda Casagrande para o Quilombo da Lapinha, reconhecendo o desrespeito realizado pelo órgão ao adquirir esta propriedade que estava em conflito com a comunidade e com uma ação na justiça.

No final do dia, depois de receberem a “visita” de policiais da PM que lavrou o Boletim de Ocorrência, fizeram uma avaliação do primeiro dia da retomada e planejaram as próximas etapas. José Alagoano, liderança vazanteira de Pau Preto fala do que planejam fazer e dos apoios que estão recebendo:

Na segunda feira vamos fazer uma oficina de formação aqui. Vamos aprender como fazer a autodemarcação usando o GPS com os técnicos do CAA. Já temos a CPT nos apoiando aqui na nossa organização, além de fazermos parte da Articulação Popular do São Francisco. O Braulino da Comissão Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais esteve com a gente trazendo apoio à nossa luta. Na semana passada fizemos um trabalho com professores e estudantes da UFV com estudos das plantas, nós queremos tirar o sustento daqui, mas preservando também. Já temos o apoio da UNIMONTES que está estudando a nossa história, o nosso jeito de viver. Eles vão chegar aqui na terça e quarta feira, de barco, estão descendo de barco desde Pirapora. Até do Rio de Janeiro e de Salvador estamos tendo apoio. Da CESE, da FASE, além dos repórteres do Observatório das Favelas que estão aqui filmando, fotografando, divulgando a nossa luta.

Com toda esta animação, o primeiro dia da retomada foi finalizado com uma oração e depois um jantar onde grupos de batuque e de sanfona festejaram com eles a esperança de dias melhores. Natalino, liderança da comunidade Ilha Pau de Légua é que fala. Antigamente nós éramos um L. Hoje já temos mais uma perna formando o U. Nós não vamos ficar parados, saindo daqui vamos para Pau de Légua, depois vamos para o Quilombo da Lapinha. Vamos movimentando. Como o rio, todo mundo junto, homem, mulher, até criança de colo está aqui com a gente. Vamos seguir lutando.

Comments (1)

  1. Parabenizo a grande luta infelizmente o governo de TODOS muitas vezes demora para realmene ver quem sao todos, principalmente em se tratando das pessoas que vivem e dependem da terra cada dia mais.
    Sucesso e força na batalha!

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