Cimi Regional Sul – Equipe Porto Alegre
Dezenas de famílias Kaingang decidiram ocupar, nesse sábado (25), uma terra reivindicada há décadas pelo povo, localizada no município de Canela, Rio Grande do Sul. Sobre a área foi constituído um parque ambiental denominado Floresta Nacional de Canela, localizado a sete quilômetros do centro da cidade. No parque existem cursos d’água e vegetação nativa, em especial a araucária.
Com a ação, os indígenas esperam que o governo brasileiro agilize os procedimentos de demarcação das terras indígenas e, em especial, da terra reivindicada na cidade de Canela, pela qual o povo Kaingang luta há décadas, pedindo junto à Fundação Nacional do Índio (Funai), Ministério da Justiça e Ministério Público Federal a realização de estudos de identificação e delimitação do local considerado por eles como sendo de seus antepassados.
Os Kaingang, ao longo da história, acabaram sendo expulsos de seus territórios, no entanto permaneceram em seu entorno, circulando sempre nas proximidades das terras ancestrais, acampando, movimentando-se e ensaiando o regresso. Essa é a maneira de estabelecerem relações contínuas com seus lugares sagrados e com o mundo dos espíritos ancestrais.
Lamentavelmente, milhares de indígenas vivem hoje em pequenas áreas de terras ou acampamentos na beira das estradas no centro do estado, na serra gaúcha, no litoral e na região metropolitana de Porto Alegre. Essa realidade está diretamente relacionada com o processo violento de colonização e ocupação territorial. E neste processo, as terras foram degradadas e pouco restou, no Sul do país, do que eram os territórios quando do usufruto exclusivo dos Kaingang: áreas com matas, com animais para caçar, com rios e lagos sem poluição.
Muitas de suas terras, redutos sagrados, foram transformadas em fonte de renda, em capital especulativo através do plantio de grãos (soja, milho, trigo), através da implantação de grandes latifúndios (criação de gado e de grandes granjas da monocultura) e vêm servindo para a expansão imobiliária. E, nas últimas décadas, áreas que não serviam para a agricultura e nem para a criação do gado de corte, sobre as quais restavam recursos ambientais significativos ou, em muitos casos, em processo de extinção por causa da exploração indiscriminada da madeira, foram transformadas em reservas ou parques de preservação.
O relacionamento dos povos indígenas com a natureza e com a terra sempre foi baseado no equilíbrio e no respeito, aspecto que difere significativamente do modo de exploração desenfreada que caracteriza as sociedades capitalistas, para as quais as terras e os recursos naturais são vistos como bens para consumir, mesmo que isso signifique destruir. Na concepção da maioria dos povos, a terra é mãe, e como tal precisa ser cuidada e protegida. Os Kaingang, por exemplo, alicerçam seus modos de vida na terra porque é dela que se faz toda a existência e sobre ela residem todas as coisas, inclusive as espirituais.
As ações de retomada de terras originárias são as formas encontradas pelos povos indígenas para chamar a atenção da sociedade brasileira para essa realidade e, ao mesmo tempo, para cobrar do governo brasileiro que a Constituição Federal seja respeitada e, portanto, o direito à demarcação das terras assegurado em definitivo.
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Imagem: Reprodução do Cimi