Cada vez mais camponeses em Cabo Delgado trocam agricultura por garimpo

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União de Camponeses da província do norte de Moçambique considera “assustadora” a taxa de agricultores envolvidos na atividade mineira e alerta para os perigos de diminuição da produção agrícola

DW – De acordo com a União de Camponeses, os fatores que ditam o abandono da agricultura variam, mas o alto rendimento conseguido em pouco tempo no trabalho no garimpo, o deficiente sistema de financiamento da agricultura e a falta de mercado para os excedentes agrícolas são apontados pela esmagadora maioria dos camponeses como os principais motivos que os leva a apostar na atividade mineira.

A União dos Camponeses descreve a taxa de agricultores envolvidos na atividade do garimpo como “assustadora”. A organização lança mesmo o alerta: o problema já está a afetar a população e deve ser solucionado o mais rapidamente possível.

Moçambique está há mais de 20 anos a lutar contra a fome, tendo reduzido a percentagem da população subnutrida em 50%. Ainda assim, ainda existem sete milhões de pessoas subnutridas no país.

Tal como outros camponeses, Cassiana Tupane dedica-se ao duro trabalho do garimpo na mina de granada em Ancuabe, embora conheça os riscos que a atividade acarreta.

“Alguns camponeses abandonaram a aldeia e associações e foram viver para as minas”, conta. “Estamos cientes de que o garimpo que praticamos contribuirá para a insuficiência alimentar, como consequência do abandono dos nossos campos agrícolas”, acrescenta Cassiana Tupane. Apesar de se afirmarem conscientes das dificuldades alimentares que poderão enfrentar, os camponeses defendem que se trata uma questão de sobrevivência.

Saúde em risco

Alamo Faquihi, um dos trabalhadores que trocou a atividade agrícola pelo garimpo, explica que, por vezes, os camponeses também se ressentem pela falta de compradores para os minerais. “Este é um problema que nos vai afectar muito, em termos de produção e produtividade. Alguns produtores deixam de fazer a produção agrícola, virando-se para a exploração mineira”, considera Faquihi.

A atividade mineira é um trabalho fisicamente duro que acarreta riscos para a saúde. O camponês Mário João lembra que o local onde se pratica o garimpo é uma zona “fértil para a propagação de doenças infecciosas”, para além de se contraírem “doenças respiratórias no processo de extração”.

Segundo Assane Juanga, coordenador da União de Camponeses de Cabo Delgado, se situação prevalecer e caso não sejam tomadas medidas preventivas, poderá registar-se nos próxmos anos uma crise alimentar na região, especialmente no seio das localidades onde são noticiadas novas descobertas de minérios.

“Os camponeses são chamados a recorrer ao garimpo, considerando que é uma atividade que vai render num curto espaço de tempo, porque conseguem as pedras e têm os compradores ao seu lado”, explica Juanga.

Em Moçambique, o fenómeno tem maior expressão nos distritos de Ancuabe e Montepuez. Para além das recentes descobertas do petróleo e de gás na bacia do Rovuma, Cabo Delgado é rico em recursos minerais como granada, rubi, grafite e mármore.

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