Por Israel Souza
A sede Regional do Conselho Indigenista Missionário – CIMI, foi invadida na madrugada de segunda-feira. Os bandidos arrancaram grades e forros do teto para terem acesso ao que queriam. De todos os equipamentos existentes na sede nenhum foi levado, exceto um HD externo no qual realizamos o bekup da contabilidade.
Os bandidos sabiam o que queriam porque, segundo a própria perícia realizada no local, todos utilizavam luvas e foram direto às sala da contabilidade e da coordenação. Reviraram arquivos, cortaram os fios de conexão dos computadores e espalharam objetos.
O que procuravam tinha um imenso valor para eles, pois, para conseguirem seu intento tiveram que arrombar duas grades e ainda o forro do teto, além de terem que vasculhar tudo atrás do HD além de, provavelmente terem que checar os dois PC, o da coordenação e o da contabilidade. Se repararem na imagem da grade do banheiro, uma das que foram arrombadas, verão que se trata na verdade de duas grades. Uma interna e outra externa, o que demonstra que a intenção de pegar o que buscavam era realmente grande, questão de vida ou morte para os bandidos.
Nós do Conselho Indigenista Missionário – CIMI, regional Amazônia Ocidental, entendemos que nosso trabalho mexe com interesses poderosos capazes de tudo para continuarem a espoliação dos territórios e subjugando povos e comunidades. Entretanto, denunciamos e repudiamos toda e qualquer forma de violência, seja contra os povos indígenas e trabalhadoras e trabalhadores das comunidades, seja seus apoiadores e aliados, como é o caso do CIMI.
Denunciamos ainda que por diversas vezes nossos agentes sofreram e vem sofrendo ameaças e intimidações. Lembramos também os diversos arrombamentos ocorridos na sede da Comissão Pastoral da Terra e que ainda permanecem sem a devida explicação ou punição de um único responsável que seja. A continuar dessa forma seguiremos assistindo o assassinato de líderes indígenas, trabalhadoras e trabalhadores rurais, como se não houvesse qualquer vestígio de autoridade e lei. A pergunta é: até quando?
Continuaremos exigindo das autoridades medidas de proteção aos trabalhadores e trabalhadoras, povos e comunidades e aos agentes apoiadores e solidários às causas desses povos e dessa gente sofrida e historicamente roubada, saqueada e espoliada.
De nossa parte a ordem é não recuar e, caso ocorra, que seja apenas para pegar impulso.
Comentário do meu amigo e produtor de vídeos Gerson Neto: “O CIMI do Acre é um dos grupos com quem tive mais alegria ao trabalhar. Gente que realmente dedica sua vida a servir com lealdade os povos indígenas. E isso contraria muita gente poderosa, que quer as terras e as riquezas para eles. Deus ilumine com coragem e força aos missionários do CIMI.”
Quanto a mim, deixo aqui minha indignação pelo que aconteceu e pela inoperância das autoridades. De igual modo, hipoteco minha solidariedade à turma do CIMI, irmãos de fé e luta. Estes fazem parte daqueles poucos que, corajosamente, ainda vivem o evangelho libertador, sem transigência com os opressores.
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ruben Siqueira.